Link Triskle (ao centro a Triketa), representação dos Três Reinos na cultura celta. Em sentido horário usado para expansão, em sentido anti-horário usado para proteção. |
Por Ávillys d’Avalon.
“Neamh nglas, muir más, talamh cé.”
“Céu azul, belo Mar, Terra presente.”
(Invocação de Blathmac mac Cú Brettan)
Para
os celtas Três Reinos compõem a existência da Terra Média. A Terra Média, ou
Mundo Intermediário é parte da concepção cosmológica celta, que acredita haver
três Mundos (um acima, um ao meio e um abaixo) – nós poderíamos hoje dizer três
universos. Nós e tudo o que conhecemos, sentimos e sabemos vivemos no Mundo do
meio, ou Mundo Intermediário ou Terra Média.
O
alcance aos outros Mundos nos é vetado e tudo o que temos conhecimento está
fisicamente locado na Terra Média: Deuses, fadas, ancestrais, outras terras...
E tudo isso pode ser alcançado fisicamente por quem souber navegar para o Oeste
ou tiver a “sorte” de atravessar um portal.
A
Terra Média possui então Três Reinos: o Céu sobre nossas cabeças, a Terra sob
nossos pés, e o Mar que nos rodeia. E assim, tudo o que existe, pertence a um
dos reinos.[1] Não nos é difícil entender
porque dessa relação muito presente sobretudo nos celtas irlandeses: a Irlanda
é uma ilha com um céu sobre ela, uma terra firme para pisar e um gigantesco mar
circundante. Mas se formos parar para pensar, tudo o que existe não é assim?
Não seria o espaço sideral uma prorrogação de nosso circundante mar nos
conduzindo a outras terras (deferentes da nossa mas igual em existência)?
Desse
modo, o Céu é o Reino de Nwyfre, do Ar, Reino dos Deuses e dos animais que voam
e planam. É do Céu que vem a inspiração e o contato com os Deuses. Ele é o
nosso Reino Acima.
A
Terra é o Reino de Calas, da Terra, Reino dos Espíritos da Natureza (as fadas
que vivem entre nós), dos homens e dos animais que andam e rastejam. É da Terra
que vem a sustentação, e o caminho para o desenvolvimento. Ele é nosso Reino do
Meio.
O
Mar é o Reino de Gwyar, do Mar (das águas), Reino dos Ancestrais e das fadas (as
que não vivem entre nós), dos animais que nadam e mergulham. É do Mar que vem
as provações, a condução e os sentimentos. Ele é nosso Reino Abaixo e ao Redor.
No
centro do Mundo encontra-se então a Árvore do Mundo, aquela que conecta e
mantém os Três Reinos. Para os celtas essa árvore é um freixo com galhos
altivos que alcançam os céus, tronco firme que sustenta a terra e raízes
profundas que alcançam o mar (as águas). Na sua frente queima a Awen (ou Imbas),
o fogo sagrado.
“Que o céu caia e me esmague, que o mar se erga e me afogue, que a terra se abra e me engula se eu quebrar esse juramento.”
(juramento irlandês)
E eis um juramento muito respeitado e de grande poder entre os celtas irlandeses. Seu maior temor era exatamente esse cenário apocalíptico em que o desequilíbrio (talvez o fim da Árvore do Mundo) levasse ao caos entre os reinos, fazendo o Céu cair, o Mar invadir a Terra e a Terra se abrir.
“Não sei qual o meu destino.
Viajo para muito longe das ondas.
Procuro minha alma, onde ela está?
Eu olho a estrela para me guiar de
volta.
Há uma ilha no oeste,
Terra sob o Céu e sobre o Mar,
Viajo para muito longe em minha busca.
Procuro um guia para me conduzir.
Um ramo de prata em minha mão
Com flor de cristal e fruto dourado,
A mãe árvore cresce na praia;
É lá que eu devo encontrar minha raiz.
Há uma ilha no mar,
Onde as águas fluem e o alimento dá a
vida,
Onde não há inimigo, onde o amor é
livre.
Procuro um lugar onde não aja contenda.
Eu olho a estrela para me guiar para
casa,
Encontro o repouso da minha alma e meu
espírito,
Viajei muito além das ondas,
Pois não há fim em minha busca.”
(poema de Catlín Mathews para a travessia da alma apud Rowena A. Seneween)[2]
Sugestões de leituras:
SENEWEEN, Rowena A. O que são os 30 dias druídicos In Templo de Avalon [S. I.]. Disponível em <http://www.templodeavalon.com/modules/smartsection/item.php?itemid=51>.
Referências:
Schleichuberti, João Eduardo. Elementos Místicos do Druidismo e sua interconexão e uso prático [palestra] In VI EBDRC. Circulação interna. Curitiba, 2015.
SENEWEEN, Rowena A. 2º Dia: Cosmologia In Templo de Avalon [S. I.]. Disponível em: <http://www.templodeavalon.com/modules/smartsection/item.php?
_________________. 4º Dia: Três Reinos In Templo de Avalon [S. I.]. Disponível em: <http://www.templodeavalon.com/modules/smartsection/item.php?itemid=55>.
_________________. 5º dia: Elementos In Templo de Avalon. Disponível em: <http://www.templodeavalon.com/modules/smartsection/item.php?itemid=56>.
[1] Particularmente eu
articulo os reinos igualmente como Acima, ao Meio e Abaixo, seguindo a seguinte
ordem: Céu acima, Terra ao meio, Mar abaixo. Minha justificativa é simples: uma
árvore possuí seus galhos altivos no céu, seu tronco está na terra, e suas
raízes profundas buscam água. Mas conheço e reconheço outras vertentes que, por
exemplo, articulam Céu acima, Mar ao meio, Terra abaixo, usando duas
justificativas: a primeira relacionada ao fato de que pisamos sobre a terra,
por isso ela estaria abaixo de nós; o mar nos circunda, o que dá uma ideia de
meio. A segunda justificativa que corrobora com essa visão são as articulações
dos caldeirões: Coíre Sois, na
cabeça, se articula com o Céu; Coíre
Ermaí, no peito, se articula com o Mar; e Coíre Goíriath, no ventre, se articula com a Terra. Vejo profunda
coerência nessa vertente. Mas eu particularmente, tendo a entender que a
posição dos Reinos não interfira em sua atuação. O Mar, mesmo abaixo nos
circunda. Referências mitológicas como a Terra Sob as Ondas (lar dos
ancestrais) também me fazem pensar no Mar como abaixo. Por fim, se recriarmos a
ideia cosmológicas dos Três Mundos estando nós habitando o intermediário, seria
fácil presumir que também habitemos o Reino Intermediário. Mas essa é uma
reflexão extensa e que creio ser insolúvel. Faço aqui uso das palavras de
Bellouesus para mim no VI EBDRC: “se dá certo para você, então está certo”.
Estude e escolha sua perspectiva, se ela for coerente e funcionar, viva-a.
[2] Retirado de Seneween, Rowena A. 4º dia: Três Reinos In Templo de Avalon [S. I.]. Disponível em: <http://www.templodeavalon.com/modules/smartsection/item.php?itemid=55>.
[2] Retirado de Seneween, Rowena A. 4º dia: Três Reinos In Templo de Avalon [S. I.]. Disponível em: <http://www.templodeavalon.com/modules/smartsection/item.php?itemid=55>.