Link Os Três Povos representados em torno da Árvore do Mundo |
Por Ávillys d’Avalon.
Três
povos sobrenaturais habitam o mundo. Os Deuses, os sídhe (as fadas), e os ancestrais. Esses são povos com quem
compartilhamos esse Mundo, mas que, geralmente, não vivem nas mesmas terras que
nós. Pertencem a outros reinos. Contudo, eles podem, e muitas vezes o fazem,
interagir em nossas terras. Acredita-se que um véu separe nossas terras das
terras sobrenaturais (também popularmente chamada de “Outro Mundo”[1]).
Esse véu é a própria bruma que cobre as vezes nosso mundo. Viajar através das
brumas é sempre um risco de atravessar o véu e ir parar em outros mundos, em
outras ilhas e terras, sobrenaturais. Além das brumas, é possível que portais
existam, se abram e se fechem, em vários lugares do mundo, conduzindo os
viajantes e transeuntes para outros mundos, ainda pertencentes ao nosso próprio
Universo (Mundo).
Essa
viagem a outras terras e mundos era algo que os celtas acreditavam poder fazer
também fisicamente, viajando pelo Oeste, rumo às brumas, ou atravessando
portais. Mas era sempre arriscado. As outras terras e seus habitantes podem ser
hostis ou perversos e podem facilmente ludibriar os seres humanos, uma vez que
o tempo não passa da mesma forma nos mundos. Assim, um viajante poderia passar
dias no outro mundo sendo que se passou anos nesse mundo. As lendas celtas são
cheias desses casos e lembretes para se tomar cuidado. Ao perceber que não está
em sua terra, a recomendação é regressar o mais rápido possível.
Contudo,
acredita-se que pela corrupção do coração humano e pela baixa de sua
espiritualidade, as passagens que ligam os mundos está cada vez mais densa e
mais difícil de ser acessada. Distanciando as terras entre si, impedindo a passagem
humana para outras terras e dificultando a passagem dos Povos a esse mundo
também.
Cinco são as ilhas, ou terras do além véu: Tír fo Thuinn, a Terra sob as Ondas, governada pelo Deus Mananann, lar dos ancestrais. Tír na mBan, Terra das Mulheres, onde a vida é gerada. Tír na mBéo, a Terra dos Vivos ou Imortais, lar dos Deuses. Tír na nÓg, o Faery, ou Terra da Juventude, lar dos sídhe (das fadas). E o Tír Tairngire, a Terra da Promessa, o último lar de nossa jornada. É possível que naveguemos espiritualmente e fisicamente a essas terras, e acredita-se que elas mostrem uma jornada espiritual a ser seguida, rumo a Terra da Promessa.
Os ancestrais:
Os
ancestrais são as almas, espíritos e energias dos antigos, dos antepassados e
também dos vivos (nossos pais, avós são também nossos ancestrais). Desde os
ancestrais de sangue, até os ancestrais da terra ou mesmo do mundo. Os celtas
acreditam na reencarnação. Acreditam que você tem a escolha de retornar a esse
mundo para aprender mais e você escolhe a linha e o aprendizado que irá obter.
Por essa razão, não era surreal que um celta marcasse o pagamento de suas
dívidas para vidas posteriores. O que nos soa calote, é totalmente aceitável na
cosmologia celta.
O
culto e às honras aos ancestrais era algo forte na cultura celta. O festival de
Samhain era também a eles dedicados.
É nossos ancestrais que abriram e nos apontaram o caminho a seguir. Eles nos
deram a tradição e os ensinamentos. Harmonizar-se com eles é manter a honra de
uma família, de um povo e de uma terra. E a honra é o que um homem pode
carregar e possuir de mais sagrado.
Para
explicar melhor sobre os ancestrais, usarei um texto de Roweena A. Seneween,
retirado na íntegra do site Templo de Avalon.
A ligação com as raízes ancestrais nos dão força para crescer e amadurecer. Ancestral ou antepassado é uma relação muito mais abrangente que vai além dos nossos queridos avôs que, talvez, já tenham feito a passagem para o Outro Mundo; é a nossa linhagem espiritual e os Deuses, os Ancestrais primordiais.
Ancestrais eu vos saúdo,
Da raiz à frondosa copa das árvores,
Sua essência habitará eternamente dentro de nós.
Podemos dizer que os ancestrais vão desde os antepassados mais próximos, ou seja, as linhagens diretas das nossas quatro famílias consanguíneas: avôs maternos e avôs paternos, e assim por diante - que no Druidismo chamamos de Ancestrais de Sangue, até a herança nativa, daqueles que habitaram a terra antes de nós - chamados de Ancestrais da Terra. E, por fim, a afinidade celta que representa a tradição dos costumes e das lendas de um povo que nos liga o passado ao presente - os Ancestrais da Tradição.
Ancestrais eu vos saúdo,
Dos passos firmes e fortes sob a terra,
Daqueles que caminharam neste solo antes de nós.
Na visão que o universo se expande em espiral com suas múltiplas escolhas, por meio da migração das almas, podemos ser até nossos próprios ancestrais. Relembrando e vivenciando uma cultura tão antiga e ao mesmo tempo tão atual, através de alguns dos seus princípios como a honra, a verdade e a lealdade.
Ancestrais eu vos saúdo,
Da essência vivida na alma e no coração,
Tribos celtas que circulam em espiral entre nós.
Portanto, ao nos lembrarmos dos antepassados, durante nossos ritos, estaremos conservando todo um patrimônio cultural, herdado de uma conexão ancestral, proporcionando assim, uma relação de reciprocidade de sentimentos de amor e amizade em todos os seus descendentes.
Ancestrais eu vos agradeço,
Pelo manto invisível que nos protege,
Da jornada às águas profundas e que renascem em nós.
"Os mortos não estão longe, pelo contrário, estão muito, mas muito mais perto do que se imagina. É um encontro com as profundezas do "self" mais oculto da natureza. É uma viagem em direção a novos horizontes. Num certo sentido, estamos sempre à espera do grande momento da colheita ou do retorno às raízes, que sempre nos assombra com uma profunda sensação de ausência. A estreita faixa de claridade que chamamos de "vida" se estende a escuridão do desconhecido rumo à morada dos ancestrais. Gosto de pensar na morte como um renascimento. A alma é livre, em um mundo onde não há separação, sombra ou lágrimas, somente reencontros." (John O'Donohue apud Roweena A. Seneween)
Os Sídhe (as fadas):
As fadas são seres intrigantes que aparecem de forma repaginada várias vezes em várias mitologias. Eu particularmente adotarei as fadas como sinônimo do termo grego “Elemental”, seres (e não espíritos) mágicos ligados a natureza e que muitas vezes vivem no Outro Mundo ou em trânsito constante a esses mundos.
Ao contrário do que os contos recentes
descrevem, as fadas não são apenas seres alados, pequenos que cuidam da
natureza. De acordo com a origem do termo, em inglês, Faery People,
“O Povo das Fadas” ou o “Povo do Faery”. Essa categoria é uma
categoria generalizadora que engloba uma porção de seres catalogados, e outros
ainda não catalogados, que costumamos chamar de “seres mágicos”. Assim, as
fadas são todos os seres mágicos que vivem em diálogo com nosso mundo: silfos (os
alados), gnomos, duendes, dragões, salamandras, e uma porção de outros
catalogados e muitos que ainda não foram catalogados por nós.
O “Faery” pode se referir ao “País
das Fadas”, uma terra pertencente a nossa realidade, mas separada de nossa
esfera por um véu mágico que separam os mundos. Também é conhecida pelos celtas
como Tír na nÓg. Esse outro mundo é tangente ao nosso, o que
significa que vivemos em realidades sincrônicas, o que acontece em um abala o
que acontece no outro e é assim que as fadas tem o poder de moldar nosso mundo.
Contudo a passagem de um para o outro nunca foi descrita como simples ou fácil,
mas um fato a ser dito é que as fadas as dominam.
Apesar dos contos modernos, as fadas não são
– e nem devem ser vistas dessa forma – seres mágicos puramente bons, dóceis e
fofinhos. Pelo contrário. As mitologias mais antigas nos contam que são um povo
bem arredio, tímido e muitas vezes perversos quando se sentem perturbados, ou
envergonhados. Contudo, é possível fazer amizades e trabalhar em conjunto com
as fadas quando as entendemos bem.
Assim
como nós, as fadas têm seu lado obscuro. Esse lado está vinculado em primeiro
às lendas que contam que as fadas, quando envergonhadas ou ofendidas, atacam
com maldições e as vezes até de forma letal aquele a quem elas consideram seus
agressores, seja tirando suas posses, sua visão, causando loucuras ou mesmo
levando a morte. As vezes punindo diretamente, outras através de
intermediários. Outro fator que comprova esse lado obscuro é o senso de humor
sombrio ou negro das fadas, que muitas vezes se divertem com o mal feito ou com
as vergonhas humanas, por isso elas são associadas às travessuras da noite de Halloween.
A esse humor travesso e punitivo, também se associa a chamada “possessão de
fada” que se remete a influência direta, possessiva de uma fada sobre alguma
pessoa, fazendo-a realizar grandes feitos e prodígios, ou fazerem coisas
humilhantes ou mesmo enlouquecendo-a. No primeiro caso, é costume que a pessoa
não se recorde de absolutamente nada do ocorrido após o término da possessão.
Outro fator que contribui é a presença de várias lendas que descrevem as fadas
raptando seres humanos, em sua maioria bebês e crianças para o seu mundo – não
com o intuito de fazer mal a criança, mas de criá-las. Essas lendas encontram
subsistência na hipótese de que as fadas não poderiam amamentar seus próprios
filhos e, por isso, pegariam filhos humanos para criá-los, muitas vezes
deixando seus filhos para que os humanos o criassem.
Os changelings (os
trocados) são geralmente filhos de fadas criados como humanos, ou humanos
criados como filhos de fada. Para reconhecer os primeiros, precisaremos nos
remeter a sua infância. As lendas contam que os filhos de fadas quando criados por
humanos são pessoas que durante a sua infância são verdadeiras pestes
ambulantes, crianças insuportáveis, muitas vezes mal-educadas, travessas e
impossíveis. Mais tarde quando a adulta, os dons de fada dessa criança podem
começar a atuar e ela pode encontrar extrema facilidade em acessar o Outro
Mundo, ou mesmo em saber de coisas que teoricamente ela não deveria saber. A
pergunta que vem em seguida é como isso é possível? Uma criança fada ser criada
como humana, e sua aparência? As lendas também respondem isso. Uma fada tem a
habilidade da metamorfose e por isso, pode estar entre nós sem ser percebida ou
reconhecida fisicamente, bem como, quando desenvolve essa habilidade, pode
mudar de formas de acordo com sua vontade e necessidade.
Enfim, esse lado obscuro das fadas nos
remetem a ideia de cuidado e respeito. Sabemos que são um povo que gosta de
privacidade, liberdade, não gostam de espiões nem de intrusos em seus
territórios. Assim sendo, são bem tímidas, impulsivas, arredias, travessas e perigosas.
É preciso cautela e muito respeito e ponderação ao lidar com elas. Elas punem
ao simples fato de se sentirem ameaçadas, e não costumam ter dó.
Contudo, elas também tem o outro lado, o
lado benevolente e muito ligado a música (uma de suas dádivas). Elas ajudam
àqueles a quem elas se simpatizam ou que demonstram respeito e benevolência
para com elas. E podem ser grandes aliadas. Afinal, a elas são dadas
mitologicamente o poder sobre o destino e andamento das coisas, principalmente
aquelas que envolvem maturação ou sorte. Conquistar uma fada, ter seu auxílio e
respeito é sempre algo muito nobre e honrado. Mas em troca você também deverá
sempre agradá-las e manter a reciprocidade de “bom vizinho”, e entender suas
impulsividades e genialidade difícil. Entretanto, nunca deixe-as sentir que
você está sendo caridoso em “pagamento” a um serviço que elas lhe tenham
prestado ou prestarão. Elas não são serviçais e detestam se sentir assim, e
isso provavelmente as fariam mostrar seu pior lado.
Lidar com as fadas não é tarefa fácil, nem
algo que se resolva com oferendas. É preciso que elas sintam confiança em suas
intenções para se soltarem e mostrarem seus melhores lados, mas uma vez que
isso ocorra, a parceria está feita e a simbiose passa a ser algo cotidiano, a
qual não se pode descuidar. É recompensador, mas dá trabalho e leva tempo. Isso
não significa que você não possa fazer agrados e mostrar seu respeito em horas
e datas festivas, mas tenha sempre ciência de quem são as fadas e para além
disso, no perigo e no privilégio de mexer com elas. Se você for um bom vizinho
em quem elas sintam confiança, além de serem suas maiores e melhores aliadas,
te ensinaram saberes preciosos que só elas possuem. Mas lembre-se, é sempre uma
simbiose: uma mútua e continua troca, respeitosa e não comerciável.
Os celtas chamavam as fadas de sídh (singular, sidhe,
plural). Mas essa palavra nos fala mais de seu local, de suas moradas, ou dos
portais até elas nesse mundo, do que das próprias fadas. Sídh, a
primeiro momento, significa “colina”, e assim as fadas seriam Daoine Sídh,
povo da colina. Contudo o termo pode ser mais amplo, e abrigar lugares sagrados
onde as fadas vivem como colinas sagradas, cemitérios, árvores solitárias,
círculos naturais (clareiras, círculos de pedras anteriores a chegada de um
povo, círculo de cogumelos, enfim qualquer formação circular encontrada na
natureza), túmulos antigos, templos, cachoeiras e nascentes, dentre outros.
Cabe ressaltar que as fadas não são Deuses, mas em alguns casos podem ser tão
poderosos quanto eles. Assim sendo, as lendas nos mostram que o desrespeito às
moradas das fadas são sempre rapidamente punidos por elas. Em alguns países
como Irlanda, ainda hoje é costume desviar estradas e construções para não
destruir árvores ou lugares onde lendas contam da existência das fadas ali.
Isso nos remete uma segunda importância, a
atenção ao entrar em lugares antigos e, principalmente naturais, devemos ser
cautelosos sempre, pedir sempre permissão, e adentrar ao espaço com respeito e
honra, nunca se sabe se ali é um sídh e se for, a última coisa
que queremos é a vingança de uma fada por desrespeito ao seu espaço.
Uma coisa ainda nos resta falar. Falamos que
elas podem ser agressivas e travessas, além de ter um humor negro e abduzirem
pessoas e crianças (as vezes objetos e comidas). Alguma forma deve haver de
proteção... E há! As lendas descrevem que as fadas não tem tolerância ao metal,
sobretudo a prata. Assim sendo, objetos metálicos ou de prata podem servir de
amuleto contra as influências ou ataques de uma fada, outro método bom é portar
sempre um pouco de aveia consigo, as fadas não só não digerem aveia como não se
aproximam quando a sentem por perto; erva-de-são-joão também é usada na proteção
contra abdução pelas fadas; era habitual vestir crianças como adultos ou tampar
seus rostos com máscaras e panos em noites e dias em que a proximidade com as
fadas era maior (disfarçadas as crianças teriam menos chance de serem
abduzidas). Contudo, o velho respeito e precaução são sempre as melhores
proteções a meu ver. Além de te manterem seguro, ainda te possibilita criar um
elo positivo com esses seres. Assim, além das dicas de “bom vizinho” descritas
acima, os eufemismos dirigidos às fadas ajudam muito: “povo nobre”, “bom povo”,
“os bons vizinhos”. Outros costumes importantes é que, nas noites em que o véu
está mais tênue (Lua Azul e Samhain / Halloween) é
costume avisar as fadas sempre que vai esvaziar um recipiente de água ou jogar
algo no chão e afins, para evitar que as acerte e cative seu desejo de
vingança...
Por fim, ao falar de fadas também falamos
dos Espíritos Guardiões. Esses são seres ou espíritos mágicos –
muitos deles são fadas – que guardam lugares e espaços. Acredita-se que todo
local, principalmente natural ou sagrado, tenha o seu. Assim como as fadas, de
seu humor e respeito dependem a (boa) estadia da pessoa naquele local. Muitas
vezes, mais de um espírito podem habitar ou guardar um determinado lugar, mas
eles sempre estão de olho e nada os escapa. Por isso, era um costume comum dos
celtas também cultuá-los e criar sempre laços respeitosos com eles, de onde,
quantos e como quer que eles fossem. Assim sendo, a dica é: nunca entre em
algum território (mesmo um seu habitual) sem prestar respeito e honras ao
guardião do local, bem como sem pedir sua permissão. Principalmente se esse
local é sagrado, natural e/ou desconhecido. Você depende do humor, boa vontade
e acolhimento desse espírito para ter uma boa e saudável estada, onde quer que
seja; ou para manter um local sagrado seguro e apto para seu uso.
Os Deuses:
Os
celtas eram politeístas. Cada tribo, reino, nação tinha seu próprio panteão e
não havia uma visão de um Deus ou Deusa únicos que fundissem ou unissem todos
os demais Deuses como arquétipos de sua unicidade. Igualmente, não era comum
que uma tribo cultuasse aos Deuses de outra tribo. Respeitava-se o panteão
local conforme a tradição e os ensinamentos (passados de boa a orelha). Haviam
apenas cinco Deuses celtas que historicamente estão presente em todas as tribos
e nações, chamados de Deuses pan-céticos: Danann, Dagda, Morrigan, Lugh e
Brigit.
Contudo,
nos dias de hoje, com o recomeço do paganismo e a globalização, é comum que
alguns grupo optem por aderir o culto a Deuses de diferentes panteões celtas,
prática realizada a partir de estudo e de forma honrosa e respeitosa. Mas
também há grupos que optam por seguir de maneira histórica e assim cultuar
apenas os Deuses da tribo ou nação que segue. Particularmente acredito que
ambas as práticas são coerentes, desde que feitas com sinceridade, estudo,
respeito e honra.
Os
Deuses eram cultuados como mestres divinos e seres de sabedoria e poder que
excedem incontáveis vezes às humanas. Viviam em terras do Outro Mundo, mas
podiam transitar, partilhar e até viver em nossas terras. Suas formas de
atuação nesse mundo eram através das forças da natureza e de seus animais
totêmicos. Acredita-se que os Deuses podem se transformar nas forças da
natureza ou em animais para atuar e viver nesse mundo.
A
visão celta dos Deuses é descrita de maneira profundamente humanizada. Nossos
sábios mestres possuem humores, desejos, se ferem, festejam, sentem dor, ira e
prazer. E muito disso ainda nos é passado nos mitos e lendas que chegaram até
nós, nos quais os Deuses são descritos com características perfeitamente
humanas, vivendo em seu convívio nessa ou em outras terras e, muitas vezes, são
aclamados como heróis. O exemplo disso está nas lendas dos Tuatha dé Danann e na conquista de Ériu (Irlanda), onde a tribo da Deusa Danann é conduzida, comandada
e governada não apenas por heróis nobres, mas pelos próprios Deuses que fizeram
ali sua morada. Isso não é tão surreal se lembrarmos que o véu difere terras e
mundos que pertencem fisicamente ao nosso próprio Mundo (Universo), assim o
trânsito, inclusive físico, não é algo absurdo. Contudo, com o véu se
solidificando, cada vez menos os Deuses vem habitar entre os humanos e cada vez
mais nos distanciamos de suas graças, honras e heroísmos.
O
contato com os Deuses é feito de maneira honrosa e amigável. É possível
conversar e indagar as coisas aos Deuses, desde que de forma respeitável, você
terá sua resposta e auxílio, basta se atentar aos sinais a sua volta. Outra
forma de contatar os Deuses é através de oráculos e vidências. Os Deuses falam
e nosso íntimo, o essencial é aprender a ouvir sua voz. A relação honrosa e o
culto aos Deuses é uma forma de agradecimento e de estreitamento de laços.
Honrar e cultuar os Deuses é uma forma bela e saudável de dizer o nosso “muito
grato” a eles. Devemos lembrar que eles controlam nosso destino e o destino de
toda existência terrena. São os seres superiores de nosso Mundo, criaturas da
Grande Canção, mas também aqueles que zelam e escutam seu tocar.
Os
Deuses não são autocráticos, mas zeladores do Mundo, mantenedores do equilíbrio
universal que permite a existência e a vida. Awen arde intensamente nos Deuses, e através deles nos aproximamos
ainda mais de Awen e do Oran Mor. E estar a seu serviço é
aprender e adquirir honra e sabedoria, servindo ao equilíbrio.
Entre
os povos celtas, contam-se mais de cento e cinquenta Deuses. Por essa razão,
não dedicarei uma fala sobre cada um deles no momento. O que nos importa dizer
é que os Deuses celtas são pré-cristãos, existem e eram cultuado muito antes da
datação de Jesus ou da cristianização da Europa. Muitos desses Deuses foram
canonizados pela Igreja Católica – como o caso de Brigit que virou Santa
Brígida (padroeira da Irlanda –; outros, ao contrário, foram demonizados – como
o caso de Cernunnos, cuja forma hibrida de natureza, animal e humana está na
base da forma do diabo medieval. Apesar desse triste fato, os Deuses celtas
nada têm a ver com os demônios cristãos. Não há culto ao diabo ou a qualquer
secto a ele relativo entre as práticas e cultos celtas. Assim como a maioria
dos grupos celtas de hoje não cultuam os elementos da cristandade ou o Cristo.
Um aprendizado que um culto politeístico semeia é o do respeito a diversidade,
não há apenas um caminho possível, há múltiplas verdades e todas são igualmente
verdadeira. Dessa forma, o respeito e a honra estão na base do culto, assim
como a busca pelo equilíbrio mais do que a noção clássica de “bem contra o mal”.
Concomitante, respeitamos, e muitas vezes nos relacionamos intimamente com, a
visão wiccana da Deusa (ou Deusa e Deus), mas essa também não é a visão celta
sobre as divindades, por mais bases célticas que a Wicca tenha.
Sugestões de leituras:
Seneween, Rowena A. O que são os 30 dias druídicos In Templo de Avalon [S. I.]. Disponível em <http://www.templodeavalon.com/modules/smartsection/item.php?itemid=51>.
Referências:
Avalon, Ávillys. Os Sídhe (as fadas) In Mundi Tempus [S. I.] Disponível em: <http://munditempus.blogspot.com.br/2015/06/as-fadas-os-sidhe.html>.
Black, Lady Mirian. O Outro Mundo [Capítulo 21] In Bruxas. São Paulo: Ícone Editora, 2012, pp. 115-125.
Corr, Rafael. Os Sídhe [palestra] In VI EBDRC. Circulação interna. Curitiba, 2015.
Corr, Rafael. Os Sídhe [palestra] In VI EBDRC. Circulação interna. Curitiba, 2015.
Seneween, Rowena A. 2º Dia: Cosmologia In Templo de Avalon [S. I.]. Disponível em: <http://www.templodeavalon.com/modules/smartsection/item.php?
_________________. 4º Dia: Três Reinos In Templo de Avalon [S. I.]. Disponível em: <http://www.templodeavalon.com/modules/smartsection/item.php?itemid=55>.
_________________. 8º Dia: Divindades e Crenças In Templo de Avalon [S. I.]. Disponível em: <http://www.templodeavalon.com/modules/smartsection/item.php?itemid=59>.
_________________. 9º Dia: Ancestrais In Templo de Avalon [S. I.]. Disponível em: <http://www.templodeavalon.com/modules/smartsection/item.php?itemid=60>.
[1] Cuidado para não se
confundir com os Mundos Universais, os Três Mundos Acima, ao Meio e Abaixo, dos
quais partilhamos a Terra Média ou Mundo do Meio. As palavras usadas para ambas
as referências são as mesmas, mas são referências distintas. Tudo o que temos
conhecimento e contato, inclusive o Outro Mundo, faz parte da Terra Média.