quarta-feira, 30 de março de 2016

Os Três Povos

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Os Três Povos representados em torno da Árvore do Mundo

Por Ávillys d’Avalon.

Três povos sobrenaturais habitam o mundo. Os Deuses, os sídhe (as fadas), e os ancestrais. Esses são povos com quem compartilhamos esse Mundo, mas que, geralmente, não vivem nas mesmas terras que nós. Pertencem a outros reinos. Contudo, eles podem, e muitas vezes o fazem, interagir em nossas terras. Acredita-se que um véu separe nossas terras das terras sobrenaturais (também popularmente chamada de “Outro Mundo”[1]). Esse véu é a própria bruma que cobre as vezes nosso mundo. Viajar através das brumas é sempre um risco de atravessar o véu e ir parar em outros mundos, em outras ilhas e terras, sobrenaturais. Além das brumas, é possível que portais existam, se abram e se fechem, em vários lugares do mundo, conduzindo os viajantes e transeuntes para outros mundos, ainda pertencentes ao nosso próprio Universo (Mundo).
            
Essa viagem a outras terras e mundos era algo que os celtas acreditavam poder fazer também fisicamente, viajando pelo Oeste, rumo às brumas, ou atravessando portais. Mas era sempre arriscado. As outras terras e seus habitantes podem ser hostis ou perversos e podem facilmente ludibriar os seres humanos, uma vez que o tempo não passa da mesma forma nos mundos. Assim, um viajante poderia passar dias no outro mundo sendo que se passou anos nesse mundo. As lendas celtas são cheias desses casos e lembretes para se tomar cuidado. Ao perceber que não está em sua terra, a recomendação é regressar o mais rápido possível.
            
Contudo, acredita-se que pela corrupção do coração humano e pela baixa de sua espiritualidade, as passagens que ligam os mundos está cada vez mais densa e mais difícil de ser acessada. Distanciando as terras entre si, impedindo a passagem humana para outras terras e dificultando a passagem dos Povos a esse mundo também.

Cinco são as ilhas, ou terras do além véu: Tír fo Thuinn, a Terra sob as Ondas, governada pelo Deus Mananann, lar dos ancestrais. Tír na mBan, Terra das Mulheres, onde a vida é gerada. Tír na mBéo, a Terra dos Vivos ou Imortais, lar dos Deuses. Tír na nÓg, o Faery, ou Terra da Juventude, lar dos sídhe (das fadas). E o Tír Tairngire, a Terra da Promessa, o último lar de nossa jornada. É possível que naveguemos espiritualmente e fisicamente a essas terras, e acredita-se que elas mostrem uma jornada espiritual a ser seguida, rumo a Terra da Promessa.


Os ancestrais:

Os ancestrais são as almas, espíritos e energias dos antigos, dos antepassados e também dos vivos (nossos pais, avós são também nossos ancestrais). Desde os ancestrais de sangue, até os ancestrais da terra ou mesmo do mundo. Os celtas acreditam na reencarnação. Acreditam que você tem a escolha de retornar a esse mundo para aprender mais e você escolhe a linha e o aprendizado que irá obter. Por essa razão, não era surreal que um celta marcasse o pagamento de suas dívidas para vidas posteriores. O que nos soa calote, é totalmente aceitável na cosmologia celta.
            
O culto e às honras aos ancestrais era algo forte na cultura celta. O festival de Samhain era também a eles dedicados. É nossos ancestrais que abriram e nos apontaram o caminho a seguir. Eles nos deram a tradição e os ensinamentos. Harmonizar-se com eles é manter a honra de uma família, de um povo e de uma terra. E a honra é o que um homem pode carregar e possuir de mais sagrado.
            
Para explicar melhor sobre os ancestrais, usarei um texto de Roweena A. Seneween, retirado na íntegra do site Templo de Avalon.

A ligação com as raízes ancestrais nos dão força para crescer e amadurecer. Ancestral ou antepassado é uma relação muito mais abrangente que vai além dos nossos queridos avôs que, talvez, já tenham feito a passagem para o Outro Mundo; é a nossa linhagem espiritual e os Deuses, os Ancestrais primordiais. 
Ancestrais eu vos saúdo,
Da raiz à frondosa copa das árvores,
Sua essência habitará eternamente dentro de nós.
Podemos dizer que os ancestrais vão desde os antepassados mais próximos, ou seja, as linhagens diretas das nossas quatro famílias consanguíneas: avôs maternos e avôs paternos, e assim por diante - que no Druidismo chamamos de Ancestrais de Sangue, até a herança nativa, daqueles que habitaram a terra antes de nós - chamados de Ancestrais da Terra. E, por fim, a afinidade celta que representa a tradição dos costumes e das lendas de um povo que nos liga o passado ao presente - os Ancestrais da Tradição. 
Ancestrais eu vos saúdo,
Dos passos firmes e fortes sob a terra,
Daqueles que caminharam neste solo antes de nós.
Na visão que o universo se expande em espiral com suas múltiplas escolhas, por meio da migração das almas, podemos ser até nossos próprios ancestrais. Relembrando e vivenciando uma cultura tão antiga e ao mesmo tempo tão atual, através de alguns dos seus princípios como a honra, a verdade e a lealdade. 

Ancestrais eu vos saúdo,
Da essência vivida na alma e no coração,
Tribos celtas que circulam em espiral entre nós.

Portanto, ao nos lembrarmos dos antepassados, durante nossos ritos, estaremos conservando todo um patrimônio cultural, herdado de uma conexão ancestral, proporcionando assim, uma relação de reciprocidade de sentimentos de amor e amizade em todos os seus descendentes. 
Ancestrais eu vos agradeço,
Pelo manto invisível que nos protege,
Da jornada às águas profundas e que renascem em nós.
"Os mortos não estão longe, pelo contrário, estão muito, mas muito mais perto do que se imagina. É um encontro com as profundezas do "self" mais oculto da natureza. É uma viagem em direção a novos horizontes. Num certo sentido, estamos sempre à espera do grande momento da colheita ou do retorno às raízes, que sempre nos assombra com uma profunda sensação de ausência. A estreita faixa de claridade que chamamos de "vida" se estende a escuridão do desconhecido rumo à morada dos ancestrais. Gosto de pensar na morte como um renascimento. A alma é livre, em um mundo onde não há separação, sombra ou lágrimas, somente reencontros." (John O'Donohue apud Roweena A. Seneween)


Os Sídhe (as fadas):

As fadas são seres intrigantes que aparecem de forma repaginada várias vezes em várias mitologias. Eu particularmente adotarei as fadas como sinônimo do termo grego “Elemental”, seres (e não espíritos) mágicos ligados a natureza e que muitas vezes vivem no Outro Mundo ou em trânsito constante a esses mundos.

Ao contrário do que os contos recentes descrevem, as fadas não são apenas seres alados, pequenos que cuidam da natureza. De acordo com a origem do termo, em inglês, Faery People, “O Povo das Fadas” ou o “Povo do Faery”. Essa categoria é uma categoria generalizadora que engloba uma porção de seres catalogados, e outros ainda não catalogados, que costumamos chamar de “seres mágicos”. Assim, as fadas são todos os seres mágicos que vivem em diálogo com nosso mundo: silfos (os alados), gnomos, duendes, dragões, salamandras, e uma porção de outros catalogados e muitos que ainda não foram catalogados por nós.

O “Faery” pode se referir ao “País das Fadas”, uma terra pertencente a nossa realidade, mas separada de nossa esfera por um véu mágico que separam os mundos. Também é conhecida pelos celtas como Tír na nÓg. Esse outro mundo é tangente ao nosso, o que significa que vivemos em realidades sincrônicas, o que acontece em um abala o que acontece no outro e é assim que as fadas tem o poder de moldar nosso mundo. Contudo a passagem de um para o outro nunca foi descrita como simples ou fácil, mas um fato a ser dito é que as fadas as dominam.

Apesar dos contos modernos, as fadas não são – e nem devem ser vistas dessa forma – seres mágicos puramente bons, dóceis e fofinhos. Pelo contrário. As mitologias mais antigas nos contam que são um povo bem arredio, tímido e muitas vezes perversos quando se sentem perturbados, ou envergonhados. Contudo, é possível fazer amizades e trabalhar em conjunto com as fadas quando as entendemos bem.
            
Assim como nós, as fadas têm seu lado obscuro. Esse lado está vinculado em primeiro às lendas que contam que as fadas, quando envergonhadas ou ofendidas, atacam com maldições e as vezes até de forma letal aquele a quem elas consideram seus agressores, seja tirando suas posses, sua visão, causando loucuras ou mesmo levando a morte. As vezes punindo diretamente, outras através de intermediários. Outro fator que comprova esse lado obscuro é o senso de humor sombrio ou negro das fadas, que muitas vezes se divertem com o mal feito ou com as vergonhas humanas, por isso elas são associadas às travessuras da noite de Halloween. A esse humor travesso e punitivo, também se associa a chamada “possessão de fada” que se remete a influência direta, possessiva de uma fada sobre alguma pessoa, fazendo-a realizar grandes feitos e prodígios, ou fazerem coisas humilhantes ou mesmo enlouquecendo-a. No primeiro caso, é costume que a pessoa não se recorde de absolutamente nada do ocorrido após o término da possessão. Outro fator que contribui é a presença de várias lendas que descrevem as fadas raptando seres humanos, em sua maioria bebês e crianças para o seu mundo – não com o intuito de fazer mal a criança, mas de criá-las. Essas lendas encontram subsistência na hipótese de que as fadas não poderiam amamentar seus próprios filhos e, por isso, pegariam filhos humanos para criá-los, muitas vezes deixando seus filhos para que os humanos o criassem.

Os changelings (os trocados) são geralmente filhos de fadas criados como humanos, ou humanos criados como filhos de fada. Para reconhecer os primeiros, precisaremos nos remeter a sua infância. As lendas contam que os filhos de fadas quando criados por humanos são pessoas que durante a sua infância são verdadeiras pestes ambulantes, crianças insuportáveis, muitas vezes mal-educadas, travessas e impossíveis. Mais tarde quando a adulta, os dons de fada dessa criança podem começar a atuar e ela pode encontrar extrema facilidade em acessar o Outro Mundo, ou mesmo em saber de coisas que teoricamente ela não deveria saber. A pergunta que vem em seguida é como isso é possível? Uma criança fada ser criada como humana, e sua aparência? As lendas também respondem isso. Uma fada tem a habilidade da metamorfose e por isso, pode estar entre nós sem ser percebida ou reconhecida fisicamente, bem como, quando desenvolve essa habilidade, pode mudar de formas de acordo com sua vontade e necessidade.

Enfim, esse lado obscuro das fadas nos remetem a ideia de cuidado e respeito. Sabemos que são um povo que gosta de privacidade, liberdade, não gostam de espiões nem de intrusos em seus territórios. Assim sendo, são bem tímidas, impulsivas, arredias, travessas e perigosas. É preciso cautela e muito respeito e ponderação ao lidar com elas. Elas punem ao simples fato de se sentirem ameaçadas, e não costumam ter dó.

Contudo, elas também tem o outro lado, o lado benevolente e muito ligado a música (uma de suas dádivas). Elas ajudam àqueles a quem elas se simpatizam ou que demonstram respeito e benevolência para com elas. E podem ser grandes aliadas. Afinal, a elas são dadas mitologicamente o poder sobre o destino e andamento das coisas, principalmente aquelas que envolvem maturação ou sorte. Conquistar uma fada, ter seu auxílio e respeito é sempre algo muito nobre e honrado. Mas em troca você também deverá sempre agradá-las e manter a reciprocidade de “bom vizinho”, e entender suas impulsividades e genialidade difícil. Entretanto, nunca deixe-as sentir que você está sendo caridoso em “pagamento” a um serviço que elas lhe tenham prestado ou prestarão. Elas não são serviçais e detestam se sentir assim, e isso provavelmente as fariam mostrar seu pior lado.

Lidar com as fadas não é tarefa fácil, nem algo que se resolva com oferendas. É preciso que elas sintam confiança em suas intenções para se soltarem e mostrarem seus melhores lados, mas uma vez que isso ocorra, a parceria está feita e a simbiose passa a ser algo cotidiano, a qual não se pode descuidar. É recompensador, mas dá trabalho e leva tempo. Isso não significa que você não possa fazer agrados e mostrar seu respeito em horas e datas festivas, mas tenha sempre ciência de quem são as fadas e para além disso, no perigo e no privilégio de mexer com elas. Se você for um bom vizinho em quem elas sintam confiança, além de serem suas maiores e melhores aliadas, te ensinaram saberes preciosos que só elas possuem. Mas lembre-se, é sempre uma simbiose: uma mútua e continua troca, respeitosa e não comerciável.

Os celtas chamavam as fadas de sídh (singular, sidhe, plural). Mas essa palavra nos fala mais de seu local, de suas moradas, ou dos portais até elas nesse mundo, do que das próprias fadas. Sídh, a primeiro momento, significa “colina”, e assim as fadas seriam Daoine Sídh, povo da colina. Contudo o termo pode ser mais amplo, e abrigar lugares sagrados onde as fadas vivem como colinas sagradas, cemitérios, árvores solitárias, círculos naturais (clareiras, círculos de pedras anteriores a chegada de um povo, círculo de cogumelos, enfim qualquer formação circular encontrada na natureza), túmulos antigos, templos, cachoeiras e nascentes, dentre outros. Cabe ressaltar que as fadas não são Deuses, mas em alguns casos podem ser tão poderosos quanto eles. Assim sendo, as lendas nos mostram que o desrespeito às moradas das fadas são sempre rapidamente punidos por elas. Em alguns países como Irlanda, ainda hoje é costume desviar estradas e construções para não destruir árvores ou lugares onde lendas contam da existência das fadas ali.

Isso nos remete uma segunda importância, a atenção ao entrar em lugares antigos e, principalmente naturais, devemos ser cautelosos sempre, pedir sempre permissão, e adentrar ao espaço com respeito e honra, nunca se sabe se ali é um sídh e se for, a última coisa que queremos é a vingança de uma fada por desrespeito ao seu espaço.

Uma coisa ainda nos resta falar. Falamos que elas podem ser agressivas e travessas, além de ter um humor negro e abduzirem pessoas e crianças (as vezes objetos e comidas). Alguma forma deve haver de proteção... E há! As lendas descrevem que as fadas não tem tolerância ao metal, sobretudo a prata. Assim sendo, objetos metálicos ou de prata podem servir de amuleto contra as influências ou ataques de uma fada, outro método bom é portar sempre um pouco de aveia consigo, as fadas não só não digerem aveia como não se aproximam quando a sentem por perto; erva-de-são-joão também é usada na proteção contra abdução pelas fadas; era habitual vestir crianças como adultos ou tampar seus rostos com máscaras e panos em noites e dias em que a proximidade com as fadas era maior (disfarçadas as crianças teriam menos chance de serem abduzidas). Contudo, o velho respeito e precaução são sempre as melhores proteções a meu ver. Além de te manterem seguro, ainda te possibilita criar um elo positivo com esses seres. Assim, além das dicas de “bom vizinho” descritas acima, os eufemismos dirigidos às fadas ajudam muito: “povo nobre”, “bom povo”, “os bons vizinhos”. Outros costumes importantes é que, nas noites em que o véu está mais tênue (Lua Azul e Samhain / Halloween) é costume avisar as fadas sempre que vai esvaziar um recipiente de água ou jogar algo no chão e afins, para evitar que as acerte e cative seu desejo de vingança...

Por fim, ao falar de fadas também falamos dos Espíritos Guardiões. Esses são seres ou espíritos mágicos – muitos deles são fadas – que guardam lugares e espaços. Acredita-se que todo local, principalmente natural ou sagrado, tenha o seu. Assim como as fadas, de seu humor e respeito dependem a (boa) estadia da pessoa naquele local. Muitas vezes, mais de um espírito podem habitar ou guardar um determinado lugar, mas eles sempre estão de olho e nada os escapa. Por isso, era um costume comum dos celtas também cultuá-los e criar sempre laços respeitosos com eles, de onde, quantos e como quer que eles fossem. Assim sendo, a dica é: nunca entre em algum território (mesmo um seu habitual) sem prestar respeito e honras ao guardião do local, bem como sem pedir sua permissão. Principalmente se esse local é sagrado, natural e/ou desconhecido. Você depende do humor, boa vontade e acolhimento desse espírito para ter uma boa e saudável estada, onde quer que seja; ou para manter um local sagrado seguro e apto para seu uso.



Os Deuses:

Os celtas eram politeístas. Cada tribo, reino, nação tinha seu próprio panteão e não havia uma visão de um Deus ou Deusa únicos que fundissem ou unissem todos os demais Deuses como arquétipos de sua unicidade. Igualmente, não era comum que uma tribo cultuasse aos Deuses de outra tribo. Respeitava-se o panteão local conforme a tradição e os ensinamentos (passados de boa a orelha). Haviam apenas cinco Deuses celtas que historicamente estão presente em todas as tribos e nações, chamados de Deuses pan-céticos: Danann, Dagda, Morrigan, Lugh e Brigit.
            
Contudo, nos dias de hoje, com o recomeço do paganismo e a globalização, é comum que alguns grupo optem por aderir o culto a Deuses de diferentes panteões celtas, prática realizada a partir de estudo e de forma honrosa e respeitosa. Mas também há grupos que optam por seguir de maneira histórica e assim cultuar apenas os Deuses da tribo ou nação que segue. Particularmente acredito que ambas as práticas são coerentes, desde que feitas com sinceridade, estudo, respeito e honra.
            
Os Deuses eram cultuados como mestres divinos e seres de sabedoria e poder que excedem incontáveis vezes às humanas. Viviam em terras do Outro Mundo, mas podiam transitar, partilhar e até viver em nossas terras. Suas formas de atuação nesse mundo eram através das forças da natureza e de seus animais totêmicos. Acredita-se que os Deuses podem se transformar nas forças da natureza ou em animais para atuar e viver nesse mundo.
            
A visão celta dos Deuses é descrita de maneira profundamente humanizada. Nossos sábios mestres possuem humores, desejos, se ferem, festejam, sentem dor, ira e prazer. E muito disso ainda nos é passado nos mitos e lendas que chegaram até nós, nos quais os Deuses são descritos com características perfeitamente humanas, vivendo em seu convívio nessa ou em outras terras e, muitas vezes, são aclamados como heróis. O exemplo disso está nas lendas dos Tuatha dé Danann e na conquista de Ériu (Irlanda), onde a tribo da Deusa Danann é conduzida, comandada e governada não apenas por heróis nobres, mas pelos próprios Deuses que fizeram ali sua morada. Isso não é tão surreal se lembrarmos que o véu difere terras e mundos que pertencem fisicamente ao nosso próprio Mundo (Universo), assim o trânsito, inclusive físico, não é algo absurdo. Contudo, com o véu se solidificando, cada vez menos os Deuses vem habitar entre os humanos e cada vez mais nos distanciamos de suas graças, honras e heroísmos.
            
O contato com os Deuses é feito de maneira honrosa e amigável. É possível conversar e indagar as coisas aos Deuses, desde que de forma respeitável, você terá sua resposta e auxílio, basta se atentar aos sinais a sua volta. Outra forma de contatar os Deuses é através de oráculos e vidências. Os Deuses falam e nosso íntimo, o essencial é aprender a ouvir sua voz. A relação honrosa e o culto aos Deuses é uma forma de agradecimento e de estreitamento de laços. Honrar e cultuar os Deuses é uma forma bela e saudável de dizer o nosso “muito grato” a eles. Devemos lembrar que eles controlam nosso destino e o destino de toda existência terrena. São os seres superiores de nosso Mundo, criaturas da Grande Canção, mas também aqueles que zelam e escutam seu tocar.
            
Os Deuses não são autocráticos, mas zeladores do Mundo, mantenedores do equilíbrio universal que permite a existência e a vida. Awen arde intensamente nos Deuses, e através deles nos aproximamos ainda mais de Awen e do Oran Mor. E estar a seu serviço é aprender e adquirir honra e sabedoria, servindo ao equilíbrio.
            
Entre os povos celtas, contam-se mais de cento e cinquenta Deuses. Por essa razão, não dedicarei uma fala sobre cada um deles no momento. O que nos importa dizer é que os Deuses celtas são pré-cristãos, existem e eram cultuado muito antes da datação de Jesus ou da cristianização da Europa. Muitos desses Deuses foram canonizados pela Igreja Católica – como o caso de Brigit que virou Santa Brígida (padroeira da Irlanda –; outros, ao contrário, foram demonizados – como o caso de Cernunnos, cuja forma hibrida de natureza, animal e humana está na base da forma do diabo medieval. Apesar desse triste fato, os Deuses celtas nada têm a ver com os demônios cristãos. Não há culto ao diabo ou a qualquer secto a ele relativo entre as práticas e cultos celtas. Assim como a maioria dos grupos celtas de hoje não cultuam os elementos da cristandade ou o Cristo. Um aprendizado que um culto politeístico semeia é o do respeito a diversidade, não há apenas um caminho possível, há múltiplas verdades e todas são igualmente verdadeira. Dessa forma, o respeito e a honra estão na base do culto, assim como a busca pelo equilíbrio mais do que a noção clássica de “bem contra o mal”. Concomitante, respeitamos, e muitas vezes nos relacionamos intimamente com, a visão wiccana da Deusa (ou Deusa e Deus), mas essa também não é a visão celta sobre as divindades, por mais bases célticas que a Wicca tenha.



Sugestões de leituras:

Seneween, Rowena A. O que são os 30 dias druídicos In Templo de Avalon [S. I.]. Disponível em <http://www.templodeavalon.com/modules/smartsection/item.php?itemid=51>.



Referências:


Avalon, Ávillys. Os Sídhe (as fadas) In Mundi Tempus [S. I.] Disponível em: <http://munditempus.blogspot.com.br/2015/06/as-fadas-os-sidhe.html>. 

Black, Lady Mirian. O Outro Mundo [Capítulo 21] In Bruxas. São Paulo: Ícone Editora, 2012, pp. 115-125.

Corr, Rafael. Os Sídhe [palestra] In VI EBDRC. Circulação interna. Curitiba, 2015.

Seneween, Rowena A. 2º Dia: Cosmologia In Templo de Avalon [S. I.]. Disponível em: <http://www.templodeavalon.com/modules/smartsection/item.php?

_________________. 4º Dia: Três Reinos In Templo de Avalon [S. I.]. Disponível em: <http://www.templodeavalon.com/modules/smartsection/item.php?itemid=55>.

_________________. 8º Dia: Divindades e Crenças In Templo de Avalon [S. I.]. Disponível em: <http://www.templodeavalon.com/modules/smartsection/item.php?itemid=59>. 

_________________. 9º Dia: Ancestrais In Templo de Avalon [S. I.]. Disponível em: <http://www.templodeavalon.com/modules/smartsection/item.php?itemid=60>.




[1] Cuidado para não se confundir com os Mundos Universais, os Três Mundos Acima, ao Meio e Abaixo, dos quais partilhamos a Terra Média ou Mundo do Meio. As palavras usadas para ambas as referências são as mesmas, mas são referências distintas. Tudo o que temos conhecimento e contato, inclusive o Outro Mundo, faz parte da Terra Média.