sexta-feira, 19 de março de 2021

19 de março: Dia de Mórrígan



No Leanaí an Ghealach Clann - LaG, celebramos a deusa Mórrígan, nossa "deusa padroeira", no dia 19 de março. Essa data foi escolhida com base em nosso culto e devoção à essa deusa, que não possui um dia do ano especificamente seu, ou ao menos não chegou nenhum relato desse dia e referência.

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Por Ávillys mac Mórrigan.

Mórrígan é parte de um trio de deusas guerreiras profundamente reverenciadas e temidas, conhecida como As Mórrígna. O trio seria composto pelas três irmãs, filhas de Ernmas e Delbáeth: Mórrígan, Macha e Badb. Sua linhagem é confusa, ora é atribuída às Tuatha dé Danann, ora aos Fomorianos e, muitas vezes, vistas como mestiças dos dois povos. É inquestionável, no entanto, de que as irmãs fossem uma Tuatha dé em lealdade e são mitologicamente reconhecidas assim. Mas elas não eram muito referenciadas no dia a dia das tribos, o que nos faz pensar de que, possivelmente, eram deusas mais reclusas, e que se juntavam às tribos nos momentos de guerra ou de grande necessidade, vindo sempre em auxílio das Tuatha dé Danann e sempre influenciando o resultado final das batalhas.

 Para além de exímias guerreiras, as três filhas de Ernmas eram habilidosas feiticeiras, versadas na Rosc Catha (maldição ou canto de guerra) – a mais famosa delas se passou na Primeira Batalha de Maegh Tuiread (Moytura) quando as três irmãs conjuraram uma chuva de sangue incessante sobre os Fir Bolg, provocando pavor nos campos de batalha.

 Outro aspecto importante dessas irmãs, são como deusas da soberania. Principalmente Mórrígan e Macha estão profundamente ligadas a esse aspecto. Macha representa a soberania da terra doada pela própria terra ao governante, enquanto Morrígan representa a soberania conquistada a partir da honra e da guerra. A soberania para os celtas era sempre feminina, doada, conquistada ou compactuada pelo governante. Em termos gerais, um rei só pode governar se a terra lhe garantir sua soberania. Isso liga essas irmãs a outro lado pouco cultuado ou referenciado a elas: a terra. O lado guerra e morte não exclui essas irmãs como deusas da terra e da fertilidade.

 Marcadas por um completo empoderamento feminino, essas deusas são reverenciadas em sua autonomia e completude: como mulheres empoderadas, soberanas, guerreiras, feiticeiras, profetisas. São mulheres livres, independentes do julgo de qualquer homem que também regem a sexualidade. Por essa razão, elas foram fortemente negativadas no percurso de cristianização do mundo e ainda hoje há muito tabu e erro a respeito de seu culto, poder e abrangência.

 Mórrígan  (Mórrígu, Morrighan, Morrígan), cujo nome pode ser derivado de Mór Ríogan (Grande Rainha) ou de Mor (Mara) Ríogan (Rainha Fantasma) ou ainda de Muir Ríogan (Rainha Marítima), é deusa da guerra, da profecia, da magia e da honra. É chamada de a “Feliz com a Guerra” e geralmente descrita como feroz e mortal em uma batalha. Em alguns mitos, ela aparece para alguns líderes antes da batalha pedindo para ser acolhida em sua cama (como teria feito com o rei Nuada no final da Primeira Batalha de Maegh Tuireadh). Após a acolhida (que pode ser vista como um pacto) a deusa dá a inspiração e a força necessária para a vitória. Em outros casos, ela é vista como uma Banshee, uma lavadeira, que lava as mortalhas dos heróis que cairão durante a batalha no dia seguinte. Referência a isso é a passagem na Segunda Batalha de Maegh Tuireadh em que Dagda encontra a deusa lavando as mortalhas no vau de um riacho ao pôr do sol, e ali, seduzido pelos encantos e belezas da deusa, Dagda e Mórrígan se envolvem, e momento após, ela revela a ele os meios de vencer os fomorianos.

 Essa é a "deusa padroeira" do Leanaí an Ghealach Clann - LaG. A liberdade sexual e a entrega representam a liberdade mais profunda e íntima em nós mesmos, sem a qual não podemos ser de fato livres. A guerra, quando lutada com honra e por motivos honrados, é um caminho legítimo de conquista da soberania (e isso pode ser estendido a compreensões mais amplas, como as batalhas que lutamos no dia a dia, em nossa sociedade, as batalhas pessoais). A lealdade (para consigo mesmo antes de qualquer outra) é fundamental para vitória. A responsabilidade por nossas escolhas e ações jamais deve ser flexibilizada. E a honra deve ser sempre inquestionável. Os caminhos dessa deusa nos conduzem a reflexão sobre a honra e sobre como vivemos e lidamos com nossas próprias vidas.

 Mórrígan, celebrada no clã como Grande Rainha, está associada à gralha cinzenta (hooded crow – corvus cornix), aos lobos, cães, corvos e enguias. No LaG, associamos a ela as cores preto, vermelho e roxo; as pedras obsidiana, rubis, ametista, granada, quartzo branco, heliotropo, lignito; e as ervas espinheiro-negro, salgueiro, frutos do junípero, beladona, teixo, sabugueiro, sangue de dragão, pimenta, manjerona, rosas vermelhas. Ela é uma deusa que nos inspira a vencer, a lutar, a seguir em frente. Uma deusa protetora e leal aos seus, mas que exige honra e coerência de seus devotos. Em seus caminhos, aprendemos que apenas com soberania é possível ter legitimidade, e a soberania (que deve começar primeiro dentro: sendo soberanos de nós mesmos) deve ser conquistada: pela honra e pela batalha; mas ela deve ser mantida na paz através da verdade.

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-Oração na imagem composta por Alyne Castro.
-Crédito da imagem base: Banco de Imagens.