quarta-feira, 30 de março de 2016

As Quatro Jóias dos Tuatha dé Danann

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As Quatro Joias dos Tuatha dé Danann: Lança de Lugh, Pedra de Fal, Espada de Nuada e Caldeirão de Dagda.

Por Ávillys d’Avalon.

Também chamadas de “Os Quatro Dons dos Tuatha dé Danann” e “As Quatro Armas dos Tuatha dé Danann”.
           
“As Tuatha Dé Danann das joias preciosas,
Onde encontraram elas a ciência?
Chegaram na perfeita sabedoria
Em druidismo, artes malignas.

Brilhante Iardanel, um profeta de excelência,
De Nemed filho, filho de Agnoman,
Teve como tolo descendente o ativo Beothach,
Que um herói foi na destruição, pleno de maravilhas.

Os filhos de Beothach – longa a vida de sua fama -,
A multidão chegou dos valentes guerreiros
Depois do pesar e após grande tristeza
A Lochlann com seus rebentos todos.

Quatro cidades – justo seu renome –
Em agitação contemplaram com grande força.
Por esse motivo apaixonadamente competiram
Para aprender sua genuína sabedoria.

Failias e Gorias brilhante
Findias, Muirias de grande bravura,
Fora da qual batalhas foram vencidas,
Das principais cidades os nomes.

Morfis e o nobre Erus,
Uscias e Semiath, sempre aterrador,
Nomeá-los – um discurso necessário –
Os nomes dos sábios de nobre sabedoria.

Morfis, o poeta da própria Failias,
Em Gorias Esrus dos desejos intensos,
Semiath em Murias, dos pináculos a fortaleza,
Uscias, o justo vidente de Findias.

Quatro presentes de lá com eles
Pelos nobres das Tuatha dé Danann:
Uma espada, uma pedra, um caldeirão de qualidade,
Uma lança para a morte dos grandes campeões.

De Failias para cá a Lia Fail
Que gritava sob os reis da Irlanda.
A espada na mão do ágil Lug
De Gorias – uma escolha de riquezas vastas.

De Findias distante sobre o mar
Trazida foi a lança mortal de Nuada.
Um grande e poderoso tesouro de Murias,
O caldeirão do Dagda de feitos elevados.

O Rei do Céu, o Rei dos frágeis homens,
Que ele me proteja, o Rei das regiões reais,
O Ser em quem está a permanência dos espectros
E da raça gentil a força.”

Tuatha Dé Danann.

O Fim.
(poema traduzido do Leabhar Buidhe Lecain apud Bellouesus Isarnos)[1]

Esse poema está registrado no Leabhar Buidhe Lecain (Livro Amarelo de Lecan), um dos livros mitológicos medievais a respeito da Irlanda e dos celtas irlandeses. Com a maioria dos livros desse período, esse livro foi escrito por monges copistas e provavelmente contém itens e coisas já alterados em relação aos mitos e lendas pré-cristãs. Contudo é uma das poucas fontes escritas que temos de mitologia celta, datada da Idade Média. O que nos interessa no entanto, é que há um possível erro no poema (inclusive em sua versão original em irlandês), no qual atribui a Espada a Lugh e a Lança a Nuada. Outras lendas além do uso clássico e popular atribuem o oposto: a Lança a Lugh e a Espada a Nuada. Nesse sentido, eu adotarei o uso popular.
            
O que nos interessa, então, é a história (mítica, porém sacra) da conquista da Irlanda pelos Tuatha dé Danann...

Antes de desembarcarem e dominarem Ériu (Irlanda), os Tuatha dé Danann habitavam e peregrinavam por quatro cidades míticas ao norte do mundo, onde aprenderam as artes místicas, ou as artes druídicas (druidecht): conhecimento (fis), profecia (fáistine) e habilidades mágicas (amainsecht); sob a tutela dos quatro magos: Semias de Murias, Mofessa de Falias, Uiscias de Findias e Esras de Gorias.
            
Enquanto viviam sob a hospitalidade das cidades, os Tuatha sonhavam com uma terra que fosse sua, onde poderiam ser soberanos. Os sonhos de soberania recaíram sob a Ilha Esmeralda, cobiçada por suas verde aparência e por sua localização mais ao sul das cidades onde os Tuatha habitavam.
            
Antes de partirem à conquista de Ériu sob o comando do Rei Nuada, os quatro magos deram, cada um, um presente aos Tuatha, um talismã:

Morfessa de Falias deu a Lia Fail, ou seja, a Pedra de Fal, que gritaria ao ser pisada pelo rei que legitimamente tomasse a soberania de Ériu (fláith Érenn). Esras de Gorias deu a Sleg Loga, ou seja, a Lança de Lugh, capaz de assegurar a vitória daquele que a empunhasse. Uiscias de Findias deu a Claideb Nuadat, ou seja, a Espada de Nuada, que, uma vez desembainhada, jamais deixaria de atingir o oponente. Semias de Muirias deu o Coiri in Dagda, ou seja, o Caldeirão de Dagda, do qual nenhum bando de guerreiros valentes afastar-se-ia sem ter encontrado todo o alimento que desejasse.[2]

Com essas joias, os Tuatha conseguiram assegurar a conquista, o domínio e a soberania sobre Ériu.
            
Atualmente, é comum que druidistas atribuam as Joias às quatro direções cardinais, usando-as em suas práticas ritualísticas e também associadas ao jogo oracular do Ogham e a Janela de Fionn. Uma das correlações possíveis e comumente utilizada é a correlação com as quatro regiões irlandesas: Leinster, Munster, Connacht e Ulster, que respectivamente preenchem os pontos cardinais da Irlanda: Leste (Leinster), Sul (Munster), Oeste (Connacht) e Norte (Ulster). Essas posições também recebem atributos: Prosperidade (Leste – Leinster), Música (Sul – Munster), Conhecimento (Oeste – Connacht) e Batalha (Norte – Ulster).
            
Quanto ao posicionamento das joias nas direções cardinais, não existe nenhum registro histórico que de fato delegue as joias à qualquer posição, o que nos leva a crer que essa prática seja referente ao druidismo moderno. Desse modo, não há um posicionamento mais certo que o outro, mas posicionamentos que estudos específicos levam a constatar com verdadeiros cujas finalidades são atendidas, tornando todos igualmente verdadeiros e plausíveis.
            
Dentro de meus estudos, tendo a fazer o seguinte posicionamento:

Joia
Mago
Cidade
Direção
Atributo
Região
Caldeirão de Dagda
Semias
Murias
Leste
Prosperidade
Leinster
Pedra de Fal
Morfessa
Falias
Sul
Música
Munster
Espada de Nuada
Uiscias
Findias
Oeste
Conhecimento
Connacht
Lança de Lugh
Esras
Gorias
Norte
Batalha
Ulster


Minhas razões para essa atribuição são simples: o Caldeirão de Dagda é aquele que jamais deixará um nobre guerreiro passar fome, portanto está relacionado a Prosperidade física e terrena. Concomitante, a bandeira de Leinster possui uma harpa, outro objeto atribuído ao Deus Dagda. A Pedra de Fal é aquela que grita quando um legítimo rei pisar sobre ela, dando-lhe o direito de reclamar a soberania de Ériu, ou seja, está relacionada ao destino e a nobreza, o que nos faz clara menção à Oran Mor (a Grande Canção), a música celestial que é tudo e conduz tudo. A bandeira de Munster possui três coroas, o que faz clara referência à soberania dada pela Pedra. A Espada de Nuada é aquela que jamais deixa de atingir um oponente e por isso requer conhecimento para que seja usada com sabedoria. Também a bandeira de Connacht possui uma ave negra e um braço de guerreiro vestindo uma armadura prateada e empunhando uma espada, o que pode ser uma referência à condução de Morrigan a Nuada na vitória da primeira batalha de Mag Tured. Por fim, a Lança de Lugh é aquela que assegura a vitória a quem a empunha, sugerindo a vitória nas batalhas. E a bandeira de Ulster tem uma mão com os dedos para cima, simulando (talvez) o desenho de uma lança.

                        
E assim, ao compor meu espaço sagrado (onde quer que ele se localize) busco evocar o poder das Quatro Joias seguindo esses pontos cardinais, recriando a soberania dos Tuatha dé Danann sobre a Ilha Esmeralda, e fazendo do centro do meu espaço sagrado um local pleno de assegurada Soberania.










Sugestões de leituras:

Seneween, Rowena A. O que são os 30 dias druídicos In Templo de Avalon [S. I.]. Disponível em <http://www.templodeavalon.com/modules/smartsection/item.php?itemid=51>.


Referências:

Black, Lady Mirian. Os quatro tesouros na magia celta [Capítulo 43] In Bruxas. São Paulo: Ícone Editora, 2012, pp.225-242.

CELT. The Four Jewels of the Tuatha dé Danann In CELT: The Corpus of Eletronic Texts [S. I.]. Disponível em: <http://www.ucc.ie/celt/published/G300008/>.

Isarnos, Bellouesus. As Quatro Joias das Tuatha dé Danann I In Bellodunon [S. I.]. Disponível em: <http://bellodunon.com/2013/01/15/as-quatro-joias-das-tuatha-de-danann/>.

_____________________. As Quatro Joias das Tuatha dé Danann II In Bellodunon [S. I.]. Disponível em: <http://bellodunon.com/2015/08/12/as-quatro-joias-das-tuatha-de-danann-2/>.

Léourier, Christian. Contos e Lendas da Mitologia Celta. São Paulo: wmf Martins Fontes, 2008.

Schleichuberti, João Eduardo. Elementos Místicos do Druidismo e sua interconexão e uso prático [palestra] In VI EBDRC. Circulação interna. Curitiba, 2015.


[1] Retirado de Isarnos, Bellouesus. As Quatro Joias das Tuatha dé Danann I In Bellodunon [S. I.]. Disponível em: <http://bellodunon.com/2013/01/15/as-quatro-joias-das-tuatha-de-danann/>, acessado em 30 de março de 2016. Versão original em irlandês disponível em: <http://www.ucc.ie/celt/published/G300008/>.
[2] Isarnos, Bellouesus. As Quatro Joias do Tuatha dé Danann II In Bellodunon [S. I.]. Disponível em: <http://bellodunon.com/2015/08/12/as-quatro-joias-das-tuatha-de-danann-2/>, acessado em 30 de março de 2016.