Link As Quatro Joias dos Tuatha dé Danann: Lança de Lugh, Pedra de Fal, Espada de Nuada e Caldeirão de Dagda. |
Por Ávillys d’Avalon.
Também
chamadas de “Os Quatro Dons dos Tuatha dé Danann” e “As Quatro Armas dos Tuatha
dé Danann”.
“As Tuatha Dé Danann das joias preciosas,
Onde encontraram elas a ciência?
Chegaram na perfeita sabedoria
Em druidismo, artes malignas.
Brilhante Iardanel, um profeta de excelência,
De Nemed filho, filho de Agnoman,
Teve como tolo descendente o ativo Beothach,
Que um herói foi na destruição, pleno de maravilhas.
Os filhos de Beothach – longa a vida de sua fama -,
A multidão chegou dos valentes guerreiros
Depois do pesar e após grande tristeza
A Lochlann com seus rebentos todos.
Quatro cidades – justo seu renome –
Em agitação contemplaram com grande força.
Por esse motivo apaixonadamente competiram
Para aprender sua genuína sabedoria.
Failias e Gorias brilhante
Findias, Muirias de grande bravura,
Fora da qual batalhas foram vencidas,
Das principais cidades os nomes.
Morfis e o nobre Erus,
Uscias e Semiath, sempre aterrador,
Nomeá-los – um discurso necessário –
Os nomes dos sábios de nobre sabedoria.
Morfis, o poeta da própria Failias,
Em Gorias Esrus dos desejos intensos,
Semiath em Murias, dos pináculos a fortaleza,
Uscias, o justo vidente de Findias.
Quatro presentes de lá com eles
Pelos nobres das Tuatha dé Danann:
Uma espada, uma pedra, um caldeirão de qualidade,
Uma lança para a morte dos grandes campeões.
De Failias para cá a Lia Fail
Que gritava sob os reis da Irlanda.
A espada na mão do ágil Lug
De Gorias – uma escolha de riquezas vastas.
De Findias distante sobre o mar
Trazida foi a lança mortal de Nuada.
Um grande e poderoso tesouro de Murias,
O caldeirão do Dagda de feitos elevados.
O Rei do Céu, o Rei dos frágeis homens,
Que ele me proteja, o Rei das regiões reais,
O Ser em quem está a permanência dos espectros
E da raça gentil a força.”
Tuatha Dé Danann.
O Fim.
Esse
poema está registrado no Leabhar Buidhe
Lecain (Livro Amarelo de Lecan), um dos livros mitológicos medievais a
respeito da Irlanda e dos celtas irlandeses. Com a maioria dos livros desse período,
esse livro foi escrito por monges copistas e provavelmente contém itens e
coisas já alterados em relação aos mitos e lendas pré-cristãs. Contudo é uma
das poucas fontes escritas que temos de mitologia celta, datada da Idade Média.
O que nos interessa no entanto, é que há um possível erro no poema (inclusive
em sua versão original em irlandês), no qual atribui a Espada a Lugh e a Lança
a Nuada. Outras lendas além do uso clássico e popular atribuem o oposto: a
Lança a Lugh e a Espada a Nuada. Nesse sentido, eu adotarei o uso popular.
O
que nos interessa, então, é a história (mítica, porém sacra) da conquista da
Irlanda pelos Tuatha dé Danann...
Antes de
desembarcarem e dominarem Ériu
(Irlanda), os Tuatha dé Danann habitavam e peregrinavam por quatro cidades míticas
ao norte do mundo, onde aprenderam as artes místicas, ou as artes druídicas (druidecht): conhecimento (fis), profecia (fáistine) e habilidades mágicas (amainsecht); sob a tutela dos quatro magos: Semias de Murias, Mofessa
de Falias, Uiscias de Findias e Esras de Gorias.
Enquanto
viviam sob a hospitalidade das cidades, os Tuatha sonhavam com uma terra que
fosse sua, onde poderiam ser soberanos. Os sonhos de soberania recaíram sob a
Ilha Esmeralda, cobiçada por suas verde aparência e por sua localização mais ao
sul das cidades onde os Tuatha habitavam.
Antes
de partirem à conquista de Ériu sob o
comando do Rei Nuada, os quatro magos deram, cada um, um presente aos Tuatha,
um talismã:
Morfessa de Falias deu a Lia Fail, ou seja, a Pedra de Fal, que gritaria ao ser pisada pelo
rei que legitimamente tomasse a soberania de Ériu (fláith Érenn). Esras
de Gorias deu a Sleg Loga, ou seja, a
Lança de Lugh, capaz de assegurar a vitória daquele que a empunhasse. Uiscias
de Findias deu a Claideb Nuadat, ou
seja, a Espada de Nuada, que, uma vez desembainhada, jamais deixaria de atingir
o oponente. Semias de Muirias deu o Coiri
in Dagda, ou seja, o Caldeirão de Dagda, do qual nenhum bando de guerreiros
valentes afastar-se-ia sem ter encontrado todo o alimento que desejasse.[2]
Com
essas joias, os Tuatha conseguiram assegurar a conquista, o domínio e a
soberania sobre Ériu.
Atualmente,
é comum que druidistas atribuam as Joias às quatro direções cardinais,
usando-as em suas práticas ritualísticas e também associadas ao jogo oracular
do Ogham e a Janela de Fionn. Uma das
correlações possíveis e comumente utilizada é a correlação com as quatro regiões
irlandesas: Leinster, Munster, Connacht e Ulster, que
respectivamente preenchem os pontos cardinais da Irlanda: Leste (Leinster), Sul (Munster), Oeste (Connacht)
e Norte (Ulster). Essas posições também
recebem atributos: Prosperidade (Leste – Leinster),
Música (Sul – Munster), Conhecimento
(Oeste – Connacht) e Batalha (Norte –
Ulster).
Quanto
ao posicionamento das joias nas direções cardinais, não existe nenhum registro
histórico que de fato delegue as joias à qualquer posição, o que nos leva a
crer que essa prática seja referente ao druidismo moderno. Desse modo, não há
um posicionamento mais certo que o outro, mas posicionamentos que estudos específicos
levam a constatar com verdadeiros cujas finalidades são atendidas, tornando
todos igualmente verdadeiros e plausíveis.
Dentro
de meus estudos, tendo a fazer o seguinte posicionamento:
Joia
|
Mago
|
Cidade
|
Direção
|
Atributo
|
Região
|
Caldeirão de Dagda
|
Semias
|
Murias
|
Leste
|
Prosperidade
|
Leinster
|
Pedra de Fal
|
Morfessa
|
Falias
|
Sul
|
Música
|
Munster
|
Espada de Nuada
|
Uiscias
|
Findias
|
Oeste
|
Conhecimento
|
Connacht
|
Lança de Lugh
|
Esras
|
Gorias
|
Norte
|
Batalha
|
Ulster
|
Minhas razões para essa atribuição são
simples: o Caldeirão de Dagda é aquele que jamais deixará um nobre guerreiro
passar fome, portanto está relacionado a Prosperidade física e terrena. Concomitante,
a bandeira de Leinster possui uma
harpa, outro objeto atribuído ao Deus Dagda. A Pedra de Fal é aquela que grita
quando um legítimo rei pisar sobre ela, dando-lhe o direito de reclamar a
soberania de Ériu, ou seja, está
relacionada ao destino e a nobreza, o que nos faz clara menção à Oran Mor (a Grande Canção), a música
celestial que é tudo e conduz tudo. A bandeira de Munster possui três coroas, o que faz clara referência à soberania
dada pela Pedra. A Espada de Nuada é aquela que jamais deixa de atingir um
oponente e por isso requer conhecimento para que seja usada com sabedoria. Também
a bandeira de Connacht possui uma ave
negra e um braço de guerreiro vestindo uma armadura prateada e empunhando uma
espada, o que pode ser uma referência à condução de Morrigan a Nuada na vitória
da primeira batalha de
Mag Tured. Por fim, a Lança de Lugh é
aquela que assegura a vitória a quem a empunha, sugerindo a vitória nas
batalhas. E a bandeira de Ulster tem
uma mão com os dedos para cima, simulando (talvez) o desenho de uma lança.
E assim, ao compor meu espaço
sagrado (onde quer que ele se localize) busco evocar o poder das Quatro Joias
seguindo esses pontos cardinais, recriando a soberania dos Tuatha dé Danann
sobre a Ilha Esmeralda, e fazendo do centro do meu espaço sagrado um local
pleno de assegurada Soberania.
Sugestões de leituras:
Seneween, Rowena A. O que são os 30 dias druídicos In Templo de Avalon [S. I.]. Disponível em <http://www.templodeavalon.com/modules/smartsection/item.php?itemid=51>.
Referências:
Black, Lady Mirian. Os quatro tesouros na magia celta [Capítulo 43] In Bruxas. São Paulo: Ícone Editora, 2012, pp.225-242.
CELT. The Four Jewels of the Tuatha dé Danann In CELT: The Corpus of Eletronic Texts [S. I.]. Disponível em: <http://www.ucc.ie/celt/published/G300008/>.
Isarnos, Bellouesus. As Quatro Joias das Tuatha dé Danann I In Bellodunon [S. I.]. Disponível em: <http://bellodunon.com/2013/01/15/as-quatro-joias-das-tuatha-de-danann/>.
_____________________. As Quatro Joias das Tuatha dé Danann II In Bellodunon [S. I.]. Disponível em: <http://bellodunon.com/2015/08/12/as-quatro-joias-das-tuatha-de-danann-2/>.
Léourier, Christian. Contos e Lendas da Mitologia Celta. São Paulo: wmf Martins Fontes, 2008.
Schleichuberti, João Eduardo. Elementos Místicos do Druidismo e sua interconexão e uso prático [palestra] In VI EBDRC. Circulação interna. Curitiba, 2015.
[1] Retirado de Isarnos,
Bellouesus. As Quatro Joias das Tuatha dé
Danann I In Bellodunon [S. I.]. Disponível
em: <http://bellodunon.com/2013/01/15/as-quatro-joias-das-tuatha-de-danann/>,
acessado em 30 de março de 2016. Versão original em irlandês disponível em:
<http://www.ucc.ie/celt/published/G300008/>.
[2] Isarnos, Bellouesus. As Quatro Joias do Tuatha dé Danann II
In Bellodunon [S. I.]. Disponível
em: <http://bellodunon.com/2015/08/12/as-quatro-joias-das-tuatha-de-danann-2/>,
acessado em 30 de março de 2016.