domingo, 16 de agosto de 2020

Dia 06: Espaços Sagrados

Círculo de ávores

 Ávillys mac Mórrigan

Em primeira resposta eu diria que nossos templos é a própria natureza! Se como disse, no dia 04, a natureza é sagrada faz mais do que sentido que nossos espaços sagrados sejam os campos, os bosques, as florestas, as pradarias, as cachoeiras, os rios, os mares, as praias, os pântanos, os montes e até os desertos. Mas se pensarmos que a Terra é sagrada, então também temos que concordar que onde quer que estejamos é um local sagrado.

Por mais urbanos que sejamos e por mais distantes da natureza que nossas cidades possam parecer, elas fazem parte desse planeta e, portanto, parte da natureza. Então, a meu ver, não existe espaço que não seja ou possa ser sagrado, existe locais em que o homem distorceu em ganância e profanação, criando uma vida ilusoriamente apartada da natureza. Mas para pessoas perceptivas, a natureza está sempre ao redor: no ar que respiramos, na água que tomamos, no céu que está sobre nós, no solo que pisamos, nos pássaros e animais que adentram nossos muros. E toda corrupção pode ser limpa se assim quisermos.

Entenda, não defendo que o urbano é corrompido ou mal. Meu ponto não é esse. Os celtas viviam em vilas, fortalezas e até cidades, e haviam druidas locais desses centros tribais, certamente haviam salões e templos de reunião. Mas a conexão e simbiose com a natureza não era perdida, o sagrado estava dentro, porque também estava fora e quem habitava essas fortalezas sabia que tudo aquilo também era natureza. Inclusive, a dito de curiosidade, os druidas das florestas eram considerados mais poderosos e sábios que os druidas "urbanos". Meu ponto é a necessidade de se reconectar, de romper os muros e entender que também somos natureza.

 Hoje, muitos de nós prestam seus cultos e práticas em casa, e como não dizer que a casa, que o lar não é sagrado? Espaços sagrados são aqueles em que fazemos morada, em que nossos corações repousam (naturais ou urbanos), e se entendermos assim, espaços sagrados também são os locais onde nossos deuses, feéricos e ancestrais fazem sua morada ou encontram seu repouso.

Por essa razão, alguns locais são descritos pelos celtas como pontos de grande poder ou de grande sacralidade, pois seriam a morada (ponto de reunião ou de descanso) dos deuses, dos feéricos e dos ancestrais. Seriam, em muitos pontos, portais entre esse e o Outro Mundo. Mas não que apenas esses locais sejam sagrados. No caso céltico, temos monumentos antigos (construídos pelos predecessores desses povos), as florestas, os montes, os círculos de pedra e os locais naturalmente circulares (clareiras, círculos de cogumelos ou flores). São pontos que pertenciam ou serviam de morada aos povos sagrados (deuses, sídhe e ancestrais), e assim locais de grande sacralidade e poder.

Fairy Ring (Anel de fadas) - Local de encontro ou morada dos feéricos


Navan Fort, Amargh - Irlanda
 

Beltany Stone Circle - Irlanda
 

Brúg na Boine (Newgrange) - Irlanda
 

Stonehenge - Inglaterra
 

E não nos enganemos. Se ouvirmos lendas antigas e nativas, descobriremos locais assim descritos em nossas redondezas. Esses são espaços de peculiar reverência. Mas não que só eles importam. Ao entrar em qualquer espaço, principalmente espaço natural, é comum que nós do Druidismo peçamos "licença", e abençoamos o espaço. É uma cortesia que pressupõe que aquele local é morada de alguém (físico ou espiritual) e assim estaremos ali em partilha e em amizade, e não usurpando ou profanando espaços sagrados para outros povos, seres ou mesmo animais. Essa etiqueta é algo que também temos (ou deveríamos ter) em nossa vida humana, em nossas casas e visitas. É de bom tom pedir licença para estar num espaço que não é seu, e de melhor cortesia ainda abençoar, bendizer o espaço que te acolhe, seguindo as regras e convivências daquele local.

Uma coisa que sempre vou dizer: somos nós que consagramos ou profanamos os espaços, algumas vezes os espaços não nos pertence para profanar, o que torna nossos atos um crime espiritual. Mas se partilharmos da política da boa-vizinhança, lembrando que a natureza é sagrada e que tudo é natureza, certamente estaremos sempre consagrando e honrando as várias moradas do sagrado nesse mundo.

Para além disso, lembremos que nem só grandes construções podem ser moradas. Nossos altares, oratórios e templos são moradas do divino, ainda que pequenos e singelos. 

 

Nemed na bhFianna (clareira ritualística do Leanaí an Ghealach Clann) - Juiz de Fora / MG

 

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