segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Dia 01: Por que Druidismo?

 

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Por Ávillys mac Mórrigan

Acho eu posso responder essa pergunta em uma frase: porque foi onde minha alma encontrou morada! Mas sei que é preciso explicar, e essa pequena viagem na minha escolha será gostosa... E temos que considerar o privilégio moderno de escolhermos nossa religião, religiosidade e espiritualidade. Coisas que os antigos não conseguiam tão facilmente. Mas será que isso era um ponto importante para eles? Em sua Solidariedade Mecânica, como diria Durkheim, será que isso era um ponto? Ou será que não só é possível agora na Solidariedade Orgânica, no mundo moderno e individualizado, como também é algo que só gerou inquietação em meio a essa individualização das experiências? Não sei... E creio que esse não seja o tema. Foquemos.

 A magia sempre fez parte de mim... Desde criança: os filmes, histórias, brincadeiras eram sempre repletas de fantasia e magia. Me lembro que eu tinha um caldeirão improvisado e brinquedos que meus pais e tios me davam para simbolizarem ingrediente de poções mágicas. Tinha meus livros de feitiços e tudo. Eu cresci! E os contos de fadas foram ficando de lado. Mas aos poucos, em meio ao ceticismo do mundo moderno, fui descobrindo respingos, reminiscências de magia. E quando pesquisei sobre o assunto na internet (ainda discada) descobri que isso não era apenas ficção, magia existe! Claro que não como nos filmes e histórias, não tão fantástica, mas existe.

Foi nesse contexto que comecei a procurar referências de livros, sites e conteúdos confiáveis sobre magia. Na época, eu tinha 13 anos. Cheguei então ao livro "Wicca, a religião dos bruxos" de Ligia Amaral Lima, da Jeito de Bruxa. Eu não podia comprar esse livro e não tinha como pedir aos meus pais que comprassem. Então eu ia secretamente todo dia na livraria ler um pouquinho do livro. De pouquinho em pouquinho, li o livro todinho e ao final, a autoria havia deixado seu MSN para contato. Receoso, fiz contato. Lá fui acolhido, recebi dicas e comecei a descobrir mais do que era viver naquele mundo. Na época muito focado na Wicca. Nas palavras de Ligia Amaral, que considero minha preceptora na magia, eu era um adolescente chato, uma mala sem alça! Perguntava tudo, queria saber de tudo... Mas não é assim que se aprende?! E felizmente pude contar com a paciência e confiança dela, que acreditou em mim, em meu potencial, em minha alma. Hoje, 16 anos depois, chamo carinhosamente ela de "mama", porque ela foi quase uma mãe na magia.

Mas ainda naquela época, o adolescente chato e encantado com a descoberta, começou a ler mais livros, escondidos e depois comprando alguns. Veio o momento em que os pais descobrem e aquilo vira um assunto complicado. Com tato, fui conversando explicando do que se tratava e ganhando mais liberdades. Em alguns anos, passaria a fazer rituais em casa e ter vários altares fixos no quarto.

Eu estava na Wicca, estudando e progredindo, já formando um grupo de estudos em minha cidade. Tinha 17 anos... E apesar de ver toda a beleza na Wicca, ainda tinha pontos teóricos da crença que eu não concordava, como se não fosse ali minha instância final. Foi então que cheguei ao site Templo de Avalon, da Rowena A. Seneween, e nele encontrei sobre Druidismo.

Desde antes, eu estava voltado aos deuses celtas. Ainda que o Egito me chamasse a atenção desde criança, eram os celtas que me fisgavam. E ali, naquele maravilhoso site, lendo e conhecendo mais sobre os celtas, sua religiosidade e cultura, seus deuses eu me encontrei. Minha alma foi se preenchendo com uma sensação de: é aqui que eu pertenço. Comecei então a direcionar meus estudos para o Druidismo.

A medida que estudava mais, mais essa sensação de pertencimento ficava mais forte. A medida que fui conhecendo mais sobre mitos e histórias da Irlanda, mais minha alma se reconhecia, eu chegava a chorar de saudades de um local que nunca estive nessa vida. Foi nessa época, já com 20, 22 anos, que formei um grupo de estudos sobre Paganismo em geral na universidade em que estudava, o GEP (Grupo de Estudos Pagãos), que depois, por um clamor coletivo por estudos práticos, se tornaria GPP (Grupo de Práticas Pagãs). Foi desse grupo que em 2013, nasceria o Leanaí an Ghealach Clann, um grupo druídico em Juiz de Fora / MG fundado por três amigos e estudiosos do Paganismo e do Celtismo.

As coisas progrediram rápido desde então... Em 2015 pude participar do VI Encontro Brasileiro de Druidismo e Reconstrucionismo Céltico (EBDRC) em Curitiba / PR, e me lembro bem do acolhimento que a comunidade me prestou, que cheguei lá sozinho, um completo forasteiro, com um grupo montado de quem ninguém nunca ouviu falar. Mas o acolhimento foi caloroso, e a sensação de pertencimento, nem se fala. No final do encontro eu chorei ao me despedir daquela comunidade presencial, já sentindo saudade, mas principalmente, porque sentia que tinha achado o meu lugar! Ali tive a certeza de que o Druidismo era a casa da minha alma.

Nesse mesmo evento, conheci pessoalmente Rowena Seneween e uma amizade maravilhosa se formou a partir de então. Algo que jamais esperava, pois a admiração por essa mulher é eterna. Em 2016 fui cahmado para entrar para seu grupo de estudos sobre o Ogham e foi mais uma honra e reconhecimento. E em 2016 comecei a ser chamado para palestrar e participar nos eventos da comunidade druídica. Desde então, não perdi quase nenhum! Também em 2016 filiei oficialmente o LaG ao Conselho Brasileiro de Druidismo e Reconstrucionismo Céltico (CBDRC) e nesse mesmo ano o LaG iniciou seus trabalhos públicos.

A cada passo mais inspirador tudo se tornava, os aprendizados, os progressos, os outros chamados. Druidismo não é uma religiosidade ou espiritualidade estática. É um local para quem tem coração de aprendiz, pois estamos sempre em movimento, estudando, aprendendo, (re)descobrindo, refletindo e reformulando. É um local para uma transformação constante, e é nesse fluxo que encontro minha paz, meu caminho. Numa religiosidade que honra e reconhece o sagrado da Terra e da ancestralidade, que me permite ser quem eu sou, sem que o verbo seja o "ser", mas sim o "estar".

Hoje cá estou, 2020, 29 anos, druidista, druida do LaG, e anfitrião do XII EBDRC, em 2021... É estranho quando nos encontramos, porque tudo progride rápido, ou o tempo passa e não reparamos. E eu só consigo explicar isso de uma forma: eu sentia o chamado, ainda que não soubesse de quem ou de onde, desde sempre. E fui ouvindo, seguindo meu coração e meus passos, até que pude ver formas, pessoas, grupos, comunidades, e entender as vozes dos deuses que me conduziam. Mas não eram eles que me chamavam, eles sempre estiveram ali, me esperando. O chamado era mais profundo, vinha da ancestralidade que habita minha alma, vinha de vidas e histórias que eu apenas sinto - não sei contar nem explicar, apenas sentir e saber que está ali.

Refazendo a resposta inicial: Druidismo porque foi onde minha alma encontrou a morada de outras moradas... Porque é onde meu coração fez instância, e minha mente criou significância. Porque é onde estão os meus!

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