Após um longo tempo... retomemos.
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Ávillys mac Mórrigan.
Os ancestrais são as almas, espíritos e energias dos antigos, dos antepassados e também dos vivos (nossos pais, avós são também nossos ancestrais). Desde os ancestrais de sangue, até os ancestrais da terra ou da nossa espiritualidade.
Alguns povos e tribos celtas acreditavam na reencarnação ou na metempsicose, a transmigração da alma de um corpo para o outro. Desse modo, você tem a escolha de retornar a esse mundo para aprender mais e você escolhe a linha e o aprendizado que irá obter; ou pode prosseguir e continuar vivendo no Outro Mundo em suas várias moradas e ilhas. Mas não podemos lá generalizar essa ideia.
O culto e às honras aos ancestrais era algo forte na cultura celta. O festival de Samhain era também a eles dedicados. São nossos ancestrais que abriram e nos apontaram o caminho a seguir. Eles nos deram a tradição e os ensinamentos. Harmonizar-se com eles é manter a honra de uma família, de um povo e de uma terra. E a honra é o que um homem pode carregar e possuir de mais sagrado.
Honrar seus ancestrais é manter viva sua memória, aprender com seus erros e prosperar em seus acertos. É aprender a respeitar quem você é, de onde você veio e ter em mente onde você quer chegar.
No Druidismo Moderno prestamos honras a três ancestralidades: a de sangue, da qual descendemos corporeamente, e que carregamos conosco em nossos traços e laços físicos e espirituais. Em termos gerais é nossa ascendência. A de terra, da qual somos herdeiros, como habitantes dessa terra é nosso dever honrar os que nela viveram antes de nós, que nos ensinam sobre nossa terra, suas propriedades, ervas e épocas de plantio e colheita. Em termos gerais são os indígenas, e para muito de nós os africanos como uma reparação espiritual por terem sido apartados de suas terras. E, pro fim, a ancestralidade de tradição ou de alma, na qual você está hoje. Essa ancestralidade fala de qual tradição, filosofia de vida você segue e de quem você é herdeiro nessas ideias e, num panorama mais profundo, do local ou espiritualidade em que sua alma faz morada, onde você reconhece como seu lar filosófico e espiritual.
A ancestralidade é a base do Druidismo e da espiritualidade céltica, principalmente se tivermos em mente as tradições irlandesas, na qual os deuses habitaram esse mundo num passado distante e deles se retiraram para o Outro Mundo se tornando também sídhe, e sendo sempre também lembrados como nossos ancestrais distantes.
Já a noção e o contato com o mundo espiritual é algo que ainda precisamos desenvolver mais completamente. Muito dessa relação se perdeu com os séculos que nos separam dos celtas do passado, e hoje os movimentos revividos ainda constroem, a sua maneira, essa relação e catalogação. O que fica como fio de ouro é a honra e culto profundo a ancestralidade...
Mas veja, essa honra e culto JAMAIS deve ser usado como forma de legitimação de qualquer tipo de fascismo, cultural, social, espiritual ou político. Não é sobre ter ascendência celta ou europeia ou qualquer que seja, é sobre honrar, manter e trazer honra aos antepassados, a seus nomes (conhecidos e desconhecidos) e isso se faz com nossas ações hoje e não com nossa linhagem. Portanto, não tem muito a ver com de quem você é filho, mas com o que você faz para honrar seu ancestral, sobre suas atitudes. E mais, não é preciso ter ascendência celta para ser da comunidade ou espiritualidade céltica. Basta sentir a conexão, a ancestralidade de alma, que sempre deve ser considerada mais profundamente que a de sangue.
Gostaria, por fim, de dar palavra a Roweena A. Seneween, nesse brilhante texto de sua autoria, retirado na íntegra do site Templo de Avalon.
A ligação com as raízes ancestrais nos dão força para crescer e amadurecer. Ancestral ou antepassado é uma relação muito mais abrangente que vai além dos nossos queridos avôs que, talvez, já tenham feito a passagem para o Outro Mundo; é a nossa linhagem espiritual e os Deuses, os Ancestrais primordiais.Ancestrais eu vos saúdo,Da raiz à frondosa copa das árvores,Sua essência habitará eternamente dentro de nós.Podemos dizer que os ancestrais vão desde os antepassados mais próximos, ou seja, as linhagens diretas das nossas quatro famílias consanguíneas: avôs maternos e avôs paternos, e assim por diante - que no Druidismo chamamos de Ancestrais de Sangue, até a herança nativa, daqueles que habitaram a terra antes de nós - chamados de Ancestrais da Terra. E, por fim, a afinidade celta que representa a tradição dos costumes e das lendas de um povo que nos liga o passado ao presente - os Ancestrais da Tradição.Ancestrais eu vos saúdo,Dos passos firmes e fortes sob a terra,Daqueles que caminharam neste solo antes de nós.Na visão que o universo se expande em espiral com suas múltiplas escolhas, por meio da migração das almas, podemos ser até nossos próprios ancestrais. Relembrando e vivenciando uma cultura tão antiga e ao mesmo tempo tão atual, através de alguns dos seus princípios como a honra, a verdade e a lealdade.Ancestrais eu vos saúdo,Da essência vivida na alma e no coração,Tribos celtas que circulam em espiral entre nós.Portanto, ao nos lembrarmos dos antepassados, durante nossos ritos, estaremos conservando todo um patrimônio cultural, herdado de uma conexão ancestral, proporcionando assim, uma relação de reciprocidade de sentimentos de amor e amizade em todos os seus descendentes.Ancestrais eu vos agradeço,Pelo manto invisível que nos protege,Da jornada às águas profundas e que renascem em nós."Os mortos não estão longe, pelo contrário, estão muito, mas muito mais perto do que se imagina. É um encontro com as profundezas do "self" mais oculto da natureza. É uma viagem em direção a novos horizontes. Num certo sentido, estamos sempre à espera do grande momento da colheita ou do retorno às raízes, que sempre nos assombra com uma profunda sensação de ausência. A estreita faixa de claridade que chamamos de "vida" se estende a escuridão do desconhecido rumo à morada dos ancestrais. Gosto de pensar na morte como um renascimento. A alma é livre, em um mundo onde não há separação, sombra ou lágrimas, somente reencontros." (John O'Donohue apud Roweena A. Seneween)