Os textos dessa série serão escritos sempre pelo nosso druida, Ávillys d'Avalon, e assim trazem as percepções, estudos e compreensões do druida e de nossas práticas clânicas, muitas vezes com um caráter profundo de gnose pessoal, ou seja, não dependendo muito de referências bibliográficas específicas. Muitas das bibliografias sobre os deuses celtas são profundamente pessoais e subjetivas já que os druidas do passado não nos deixaram efetivamente nenhum texto escrito ou orientação fundamental.
Link |
Por Ávillys d'Avalon.
Hecate ou Hekate
é uma deusa greco-romana celebrada no clã como uma deusa amiga. Essa deidade
esteve presente e auxiliou o clã desde seus primeiros passos... E assim,
agradecemos e celebramos essa deusa em ritos fechados do clã.
Talvez essa seja a deusa mais
conhecida e celebrada no Paganismo atual, e, ao meu ver, isso se deve ao fato
dessa ter sido uma deusa banida, demonizada e sincretizada pela igreja católica,
mas sem muito sucesso. Associada a noite, a magia, ao destino, Hecate é uma
deusa feminina, empoderada e suficientemente temida. Seu culto chegou a ser
proibido na Roma antiga por medo de que o poder mágico detido por suas
sacerdotisas fosse capaz de atentar contra a vida do imperador. Mas claro, essa
proibição era apenas em termos, pois nem o imperador, nem ninguém tinha coragem
de intervir no culto a Hecate diretamente, temendo a fúria dessa deusa. A igreja
tentou demonizá-la, e conseguiu que seus aspectos de mulher livre e empoderada,
bem como a prática da magia fossem demonizados, mas ainda assim, ela ganhou um
lugar no credo católico sincretizada na imagem de Nossa Senhora Desatadora de
Nós, celebrada também em 13 de agosto.
Hecate é a deusa dos caminhos, das
encruzilhadas, das possibilidades. É aquela que lida com o impossível, com a
magia e com o destino. Era chamada de Enodia (desatadora de nós), por abrir os
caminhos e solucionar as causas impossíveis. Também recebera o título de Rainha
das Feiticeiras, por ser a deusa que zela e talha a magia. Na verdade Hecate é
uma titânide, uma deusa anterior ao Olimpo. Ela é filha dos titãs Perses (a
riqueza) e Asteria (as estrelas), e é descrita com aquela que existe antes de
tudo acontecer e aquela que continuará existindo após tudo se findar.
Alguns historiadores apontam para
uma possível origem de Hecate no Egito, na imagem da deusa-rã, senhora dos
partos, Hekat, outros apontam suas similaridades com a deusa germânica Harek.
Mas independente disso, seu culto era conhecido e difundido para além dos
territórios grecorromanos.
Seus símbolos clássicos são: a
chave, que abre todas as portas e caminhos, e símbolo dessa deusa enquanto
carcereira do mundo inferior (aquela que detém as chaves do Tártaro). O chicote,
símbolo de seu lado punitivo, como aquela que zela o destino e que efetua as
consequências de nossas ações. E o punhal, símbolo de seu empoderamento e poder
espiritual. A ela também são associadas tochas, como a deusa que guia e ilumina
as noites escuras.
Seus animais mais clássicos são os
cães noturnos, associados a Cérbero o gigantesco cão de três cabeças, guardião
do Mundo Inferior, com que Hecate presenteou Hades / Plutão. Mas ela também
está associada às serpentes, símbolo de sabedoria e magia e era também associada
às lebres pelos antigos gregos.
Sua associação a noite é clara, como
senhora das trevas, geralmente cultuada em encruzilhadas, especialmente as
encruzilhadas de três pontas (representando o passado que te trouxe ao
presente, o presente onde você se encontra e as escolhas que precisa fazer para
o futuro), e assim, ela é também aquela que abre todos os caminhos. Era
descrito que, nas noites sem lua, Hecate assombrava as encruzilhadas com sua
matilha de cães fantasmagóricos (conhecidos como Sinistros). Hoje está também
muito associada ao ciclo lunar pelas religiosidades modernas.
Hecate era costumeiramente representada
como uma deusa de três faces, que representam seu atributo tríplice, como
senhora dos Céus, Terra e Mundo Inferior. Zeus, Júpiter, teria dado a Hecate um
local especial junto aos deuses e o controle sobre Céus, Terra e Mundo Inferior
após a guerra contra os titãs, tanto por temor a titânide, quanto por reconhecimento,
já que Hecate teria lutado ao lado dos deuses. A ela caberia a condução dos
mistérios da vida e da morte, sendo a deusa encarregada das riquezas e bênçãos
da vida cotidiana, mas também da punição e aplicação das consequências de
nossos atos.
No Mundo Inferior, Hecate é a carcereira e condutora das almas, a
Pritânia, a "Rainha Invisível" dos Mortos. Tendo passado por Cérbero,
o cão tricéfalo, e tendo sido julgadas pelos três Juízes dos Mortos (Minos,
Radamando e Éaco), as almas devem chegar às encruzilhadas tríplices do Inferno.
Nesse ponto, Hécate envia ao reino para o qual foram julgadas adequadas: para
as campinas do Asfódelo, para o Tártaro ou para os Campos Elíseos.
Hecate rege as mulheres
livres, poderosas e donas de si. Rege a magia, os mistérios, o destino e o
oculto. Seu nome significaria “aquela que age a distância”, de maneira que sua
influência não é diretamente sentida. Ela está associada a cura, profecias,
visões, magia, lua nova (e a lua em geral), magia, encantamentos, vingança,
livrar-se do mal, riqueza, vitória, sabedoria, transformação, purificação,
escolhas, renovação e regeneração. Ela nos ensina que o negativo é um caminho
para o positivo. A doença pode ser caminho para a saúde, o encerramento para o
recomeço, a morte para a vida, o inverno para a primavera; e assim, nos conduz
a olharmos profundamente em nós mesmos, para a transformação e compreensão de
nossos ciclos.
Músicas sugeridas: