sexta-feira, 20 de março de 2020

Uma reflexão druídica sobre o Coronavírus

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Esse texto é um ensaio reflexivo oficial, feito por Ávillys mac Morrigan (Dartagnan Abdias), druida e sumo sacerdote do Leanaí an Ghealach Clann. O Druidismo e o Reconstrucionismo Céltico são religiosidades polissêmicas, passível e inúmeras outras interpretações com pequenas ou grandes diferenças entre os grupos e praticantes, a aqui apresentada, representa a versão do LaG através de nosso druida e dos ensinamentos e interpretações creditados em nossa vivência espiritual.

Além de druida e sumo sacerdote do clã, Ávillys mac Morrigan, é professor, tem formação em Ciências Sociais, mestrado e cursando o doutoramento em Ciência da Religião, pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Compõe o Fórum da Liberdade Religiosa em Juiz de Fora / MG, e atualmente é delegado do Comitê de Diversidade Religiosa do Estado de Minas Gerais (mandato 2018-2020). É oraculista, terapeuta espiritual, idealizador e artesão da Mundi Tempus, e também integra o grupo de estudos e práticas Fidnemed an Sid. Tanto o Leanaí an Ghealach Clann quanto o Fidnemed an Sid são devidamente filiados ao Conselho Brasileiro de Druidismo e Reconstrucionismo Céltico.

As reflexões aqui apresentas não isentam nem pretendem atenuar os avanços médicos e científicos a respeito da pandemia do Coronavírus, pelo contrário, apresenta uma leitura alternativa que mostra que ciência e espiritualidade podem sim andar juntas. As sugestões energéticas e espirituais apresentadas não devem ser encaradas como forma de cura geral da doença, mas como forma de cura espiritual que se aliará a cura física apresentada pela Medicina e, possivelmente, atuará na forma preventiva e curativa do mundo e da alma num futuro (talvez não tão distante).

O texto está repleto de fontes e pesquisas. Não saia acreditando em tudo, não propague notícias falsas, evite criar pânico e histeria. Questione, duvide, cheque as fontes. E, principalmente, siga estritamente as orientações médicas. Uma pandemia é assunto muito sério e não deve jamais ser encarada de forma leviana.

Esse material é original, e sua reprodução parcial ou na íntegra deve respeitar às leis de direitos autorais. As referências citadas encontram discriminadas e disponíveis no final do texto de acordo com a nota correspondente e ordem em que foi citada.

O texto foi explicado e conversado em uma live no Facebook pelo autor. O conteúdo é público e pode ser acessado por quem desejar clicando aqui.

Nos desculpamos, pois o texto teve um pequeno probleminha nas configurações, o blogspot não está aceitando (por alguma razão desconhecida) as configurações e diagramações básicas de texto. Mas como o que importa é o conteúdo... Contamos com sua compreensão.

Vamos ao texto...

Por Ávillys mac Morrigan.

Todos sabemos da praga se colocou sobre nós nos últimos meses. Uma praga viral que se espalha rapidamente, com baixa taxas de óbito, mas ainda assim bastante perigosa. Estamos assistindo os rastros aparentemente catastróficos desse vírus pelo mundo, enquanto corremos desenfreadamente por uma cura, para salvar nossa sociedade do colapso social, econômico e salutar que vem nas consequências dessa pandemia. As orientações são simples para lutar contra essa doença: fique em casa, se isole, faça quarentena, pois é a melhor maneira de proteger você e os seus e de proteger os grupos de risco, auxiliando ao sistema de saúde a conseguir atender a todos os casos... E em nosso íntimo sabemos, isso não vai passar em uma só semana. Mas o que parece simples, tem um impacto direto e bastante intenso em nossas vidas, em nossa sociedade e no mundo. E essa pequena ação, vem carregada de significados que nos interessam entender (ou deveriam interessar). Por essa razão, deixo minhas reflexões sobre essa pandemia, buscando enxergá-la numa ótica inspirada pela espiritualidade celta-irlandesa, da qual faço parte.

Vamos primeiro ao que sabemos sobre esse vírus... O Coronavírus (COVID-19) surgiu na China, ao que consta, em dezembro de 2019, se mostrou um vírus de baixa letalidade (apenas 2%), que atinge mais gravemente pessoas de um específico grupo de risco (pessoas com problemas respiratórios, diabéticos, pessoas com baixa imunidade), e nos traz sintomas semelhantes aos da gripe como febre e tosse, mas que pode levar a um agravamento dos pulmões e do quadro respiratório. Vírus esse que pode passar despercebido em muitos hospedeiros, mas que os usam de vetores para contagiar outras pessoas e que assim se alastrou rapidamente criando uma verdadeira pandemia e um caos mundial. Por essa razão, a melhor forma de lidar com esse vírus é não sendo vetor, portanto, o isolamento social da população saudável, de risco e infectada, e o tratamento urgente daqueles que apresentam os sintomas graves da virose.

E o que sabemos do mundo hoje e no momento do surgimento desse vírus? O mundo está em gritos, o planeta está em gritos. Está ferido, poluído, depredado, desrespeitado. Poluímos os rios, os mares, os céus, devastamos a terra. O aquecimento global deixou de ser uma mera hipótese e está aí, cada vez mais forte. Vimos a Antártida passar dos 20º célsius esse verão e simplesmente ignoramos, porque ainda não nos toca, não atrapalha diretamente nossas vidas. Em agosto de 2019 vimos um incêndio doloso com omissão e incentivo do Governo Brasileiro assolar nossas terras. Vimos a cidade de São Paulo – que está há quase 4 mil quilômetros de distância, se escurecer com a fumaça dos incêndios amazônicos. Depois vimos incêndios nas matas do Centro-Oeste brasileiro e o incêndio na Austrália (novembro de 2019), que cientistas constataram: podia ter sido atenuado e prevenido.

Em resumo: ignoramos nosso planeta, depredamos a natureza, poluímos e destruímos nosso mundo, conscientes disso e sem nos importar. Isso há séculos! E claro que há manifestações, há pequenos grupos que denunciam e fazem barulho... Mas o quanto isso de fato se reverteu em medidas eficazes, individuais, coletivas e sociais? O quanto podemos nos dizer realmente conscientes? Ou será que no fundo apenas sabemos e cruzamos os braços esperando alguém milagrosamente resolver isso?

De fato, esperamos alguém resolver, sempre esperamos: vivemos em um mundo altamente consumista, capitalista, que cria em nossas mentes uma falsa necessidade de consumo em cima de consumo e nos faz enxergar esse planeta como uma fonte de recursos a serem explorados e não como nossa casa! Aprendemos que quando algo não nos serve mais, ou quando quebra, podemos jogar fora, comprar outro... Em raros momentos, consertamos o que se quebra. Acontece que não temos um outro planeta para conquistar e colonizar. E nem deveríamos ter!!! Por mais que exista a busca de outros planetas habitáveis, devemos entender que não encontraremos outro planeta rápido assim, de que não é possível uma evacuação global (simplesmente por logística e recursos), que não se torna outra terra produtiva sem entender seu funcionamento, o que leva tempo, e, principalmente, deveríamos ter aprendido com o passado colonialista e não querer repetir esse erro! Um planeta, a natureza, as plantas e animais, os rios, mares, céus, a terra não é um bem! É nossa casa, e parte dela, somos parte desse organismo vivo enorme que chamamos de planeta, onde tudo é interdependente. Não temos como esperar alguém resolver ou achar outro planeta... Porque não é disso que se trata! Adoecemos esse planeta! Nos tornamos um vírus, um câncer em nosso próprio lar... E isso precisa mudar agora! E é aqui que entra o que esse vírus tem a nos ensinar... Vamos voltar ao nosso foco.

Agora que você entende que tudo está conectado, vamos entender as coisas por esse parâmetro. John Vidal, em um artigo para o Ensia[1], aponta para pesquisas científicas que dizem que os surgimentos dos novos vírus com que estamos lidando (Ebola, Gripe Suína, Gripe Aviária e até o Coronavírus) são resultado da destruição de habitats naturais, da destruição e redução dos ecossistemas. Eles se originam em animais e rapidamente ganham mutações poderosas ao se hospedarem em humanos, e que são causas do impacto da vida humana no planeta. Ou seja, o planeta está nos mandando um recado muito audível!

Mas o Coronavírus se espalhou rapidamente e colapsou nosso mundo. E se observamos as consequências naturais disso, vamos ver uma redução significativa das emissões de CO2 (gás carbônico) nos locais epidêmicos[2], e na Itálica, após quatro dias de quarentena oficial, foi possível ver os canais de Veneza cristalinos e limpos, animais como peixes e patos retornaram ao local[3]. Não precisou muito tempo de atividade humana interrompida para a natureza nos mostrar que ela é poderosa no quesito de curar a si mesma... Mas ela não estava conseguindo com a atividade humana. De acordo com o G1, em 29 de julho de 2019 nós atingimos o ponto de esgotamento dos recursos anuais do planeta[4]. Para quem não sabe, há uma estimativa do quanto o planeta pode produzir e se recuperar do impacto humano em uma média anual, o ideal é que não haja esgotamento ou que, se o houver, ele seja em 31 de dezembro daquele ano. Bem, em 2019, sobrecarregamos o planeta com 5 meses de antecedência, o que indica que todo o restante do ano “o planeta não mais se recuperaria do impacto”. Lógico que não é tão exato assim, mas acredite, é mais grave do que parece ser.

Nessa ótica, me parece correto que a Terra “ative seu sistema imunológico contra os humanos” (como li numa publicação online no Facebook). E vejamos, em poucos meses a Terra conseguiu reduzir significativamente um dos maiores males: a emissão de CO2 e, em poucos dias sem atividade humana foi capaz de limpar os canais de uma das cidades mais turísticas do mundo. Mas ela precisou nos colocar em casa. E isso deveria chamar nossa atenção, principalmente se queremos viver nesse planeta (a outra opção é a extinção, não temos mais onde viver).

Agora vamos entender como essas respostas estão nitidamente presentes nessa pandemia. Por que China? Por que o vírus surgiu na China? De acordo com O Globo, em 2007, a China ultrapassou os Estados Unidos e se tornou a maior emissora de CO2 do mundo[5]. E esse vírus vem limpar os céus, mais do que qualquer coisa. Como sei disso? Primeiro porque a camada atmosférica é fundamental para a manutenção de todo organismo global que chamamos de Terra (assista a série documental “One Strange Rock”[6], tem na Netflix). Sem ela, nada adianta limpar o resto, pois estaremos expostos aos raios e radiações letais emitidas pelo sol. Em segundo, pela forma com que esse vírus age. Ele ataca nossos pulmões que são responsáveis pela manutenção dos níveis de oxigênio e gás carbônico em nosso corpo e assim, esse vírus ataca nossa respiração.

Mas estamos falando da Terra ou nós? Dos dois. De acordo com a espiritualidade céltica e quase toda a espiritualidade mágica por aí, o microcosmos se reflete no macrocosmos e vice-versa. Encontramos essa resposta nos Nove Dúile (os nove elementos corporais)[7]. Os Dúile são elementos básicos da espiritualidade celta-irlandesa intimamente ligada com as questões de cura e saúde e são elementos que existem e se refletem nos seres e no próprio planeta. Não vou me ater em explicar muito esse conceito para não delongar ainda mais esse texto que sei que já está grande. O que nos interessa é que o dúile corporal do Sopro / Respiração, está conectado com o dúile natural do vento / ar e está magicamente ou energeticamente relacionado com as questões de limpeza, purificação, renovação, com o alívio das tensões. É nossa respiração tanto quanto o ar que circula nos céus. E sejamos francos, o ar está pesado, nossa respiração está pesada (já estava com as várias rinites e afins, mas agora está sendo impossibilitada) e esse vírus ataca a mesma parte em nós que nós o atacamos, o mesmo dúile.

Os Dúile estão relacionados e conectados aos Três Caldeirões da Poesia,[8] três receptáculos de energia espalhados pelo corpo. Também não me delongarei muito sobre, o que nos interessa é que o Dúile Anal / Gaeth (Sopro / Vento) está relacionado com o Coire Érmai (Caldeirão do Movimento), o receptáculo de nossa energia vital, de nossas emoções, das coisas que adquirimos e aprendemos no mundo, nossas experiências. Esse caldeirão, por sua vez, está relacionado ao elemento Mar / Água da cosmologia cética[9]. Elemento esse que fala das emoções, das vivências, da espiritualidade. O que nos leva a pergunta: esse vírus, por trás das questões respiratórias e físicas, não estariam nos apontando para nós mesmos? Não está também nos indicando a cura para a maiores doenças de nosso século? Ansiedade, depressão, estresse, entre outras são doenças intimamente ligadas ao Caldeirão do Movimento, ao elemento Água e que, segundo os Dúile, a resposta também se encontra na respiração. E vejam, as formas de lidar com essa pandemia é através da higiene (limpeza / purificação através das águas), através do isolamento que nos coloca para olhar para dentro e trabalhar esse interior também danificado.

Mas o ar que circula nos céus (Gaeth) nos leva a um outro dúile que não deve ser desprezado, Ceann / Neamh (Cabeça / Céu). Para os celtas irlandeses, a cabeça era onde residia nossa essência, e assim, a essência do mundo residiria no céu, o dúile natural corresponde ao dúile corporal da cabeça. Esse dúile está relacionado com o Coire Sois (Caldeirão da Sabedoria), que é receptáculo de nossa honra, nossas vitórias, nossas sabedorias, nossas conquistas. Um detalhe sobre esse caldeirão é que ele nasce de cabeça para baixo e precisa ser desvirado para ser cheio (precisamos ter merecimento para adquirir honra). Esse caldeirão, por sua vez, está relacionado ao Elemento Ar / Céu, que está relacionado com nossa conexão, com a inspiração e a vitalidade que nos move.

Isso nos leva a refletir que a resposta para esse vírus e a resposta que nos leva a cura de nossas “doenças da alma” e do planeta adoecido começam com a mudança de nossa essência nesse mundo, a mudança de quem nós somos ou como estamos sendo e nos portando, buscando viver de forma mais conectada, mais digna e merecedora de nossa casa tão maravilhosa. É preciso mudar o ritmo de vida humana. O vírus mesmo nos mostrou que nossa sociedade se colapsa com um mero chacoalhar do planeta. Se queremos continuar vivendo enquanto espécie nesse mundo, temos que viver conectados, integrados a ele, nos adaptar e rever o quanto esse nosso estilo de vida não está nos fazendo tanto mal quanto faz a Terra. O isolamento nos ensina uma nova maneira de viver, nos limpa dos excessos. O vírus tem nos ensinado algo que jamais deveríamos ter esquecido: a solidariedade e a empatia, o valor do tempo para si mesmo, e a importância da saúde interna e emocional para nossa saúde física. Mas para nos ensinar isso, nos colocou no centro de uma crise social e econômica, mostrando o que em nosso mundo está nos fazendo mal: nosso modelo social egoísta, competitivo e nosso modelo econômico altamente destrutivo (inclusive conosco mesmo, afinal se não servirmos mais somos igualmente jogados fora de nossos empregos e substituídos).

O Terra está tentando nos ensinar a viver dentro dela, abarcados em suas maravilhas, mas precisamos merecer esse planeta, entender esse planeta e nos entendermos integrantes desse organismo vivo chamado Terra. Pois a Natureza está deixando bem claro que pode sobreviver muito bem sem nós, e que se recupera rapidamente sem nossa influência. Mas nós somos totalmente dependentes dela e não sobrevivemos muito se ela decidir não mais cooperar conosco.
Minha reflexão final está totalmente alinhada ao vídeo “Carta do COVID-19 a humanidade”, clique aqui para assistir.
      É preciso que (re)aprendamos a viver nesse planeta, que nossa sociedade não seja mais a mesma quando isso acabar, que ela seja melhor, que nós sejamos melhores, mais conscientes e conectados. Pois disso depende nossa existência o planeta-mãe que nos acolhe. Que esse vírus seja um ensinamento, duro e pesado, mas essencial para nós, e que possamos efetivamente aprender. É hora de repensar nossas vidas, nossas sociedades, nossos propósitos, nossos egoísmos. E esse esforço deve ser prático, urgente, individual e coletivo. A chance nos foi dada, não vamos esperar que o sistema imunológico do planeta realmente queira nos limpar da existência. Somos um só, vibramos em uma mesma canção, o instrumento desafinado pode desafinar a canção, mas o maestro sempre pode cortar o instrumento desafinado das apresentações, e a canção irá seguir, normalmente...


Oráculos sobre a situação:

Eu fui também buscar resposta nos oráculos, e resolvi combinar três como forma de ter uma resposta mais profunda e conectada. O Ogham (alfabeto e oráculo celta-irlandês relacionado com árvores sagradas da Irlanda)[10], o Tarot de Marselha, e um oráculo que ganhei recentemente, o Enchanted Blossoms (que combina conselhos aliados a representações de flores e borboletas de uma forma profundamente feérica)[11]. Os três oráculos, a meu ver, representam os Três Povos Sagrados da espiritualidade céltica[12]: os Deuses (Ogham, criado pelo deus Oghma), os Ancestrais (Tarot, método muito usado no passado pelas cartomantes), e os Sídhe / Feéricos (Enchanted Blossoms, que está intimamente ligado a uma simbologia natural).



Ao Ogham, eu pedi informações sobre o que está acontecendo, e sua resposta veio com hÚath (Espinheiro Branco, Crataegus Monogyna)[13]. O Espinheiro Branco fala sim de doença e pestilência, de uma situação difícil e dolorosa que precisa ser vivida, enfrentada, mas com estratégia, com conhecimento e discernimento. Ao final do caminho espinhento, poderemos encontrar nosso pequeno paraíso. Ele fala da necessidade de purificação e trabalha os nossos medos. Ou seja, precisamos passar pelo que estamos passando, e precisamos fazer isso da forma correta, respeitando as orientações para alcançar nossa cura. Cura essa que virá com purificação, nossa e do mundo, mas que não será fácil e possivelmente, lenta. Essa fid (árvore) do Ogham é costumeiramente relacionada à deusa Cailleach[14], que está associada a chegada do inverno, a morte, e as doenças dessa estação, mas que também está relacionada a própria Terra, na representação de sua capa como sendo a terra que ela limpa e renova no inverno. Novamente a associação de uma deusa que traz a limpeza e a purificação, e que tem certa e possível associação natural e com o planeta. Poderíamos dizer que Cailleach resolveu tossir e purificar o ar pesado que estava respirando, e essa tosse está nos abalando, mas o ar contaminado também está vindo de nós, podemos corrigir isso.

Uma curiosidade botânica que não acredito ser coincidência: o Espinheiro Branco também é uma árvore típica da China, sua colheita é feita nos equinócios (no Outono para os bagos, na Primavera para as flores e folhas), e seu uso medicinal é indicado para tratamento de problemas do coração, ansiedade, estresse, medos e problemas nervosos. Exatamente o que esse isolamento quer que trabalhemos, o que está associado às purificações da respiração e do vento (enquanto dúile), exatamente ao que podemos associar como as doenças de nosso século e as regências do Caldeirão do Movimento, às regências do Mar / Água. Não é mera coincidência... é aqui que esse vírus atua e é aqui que devemos começar nossa cura e transformação.



Falando em cura e transformação, isso nos leva a resposta da pergunta “como podemos resolver?” feita ao Tarot. A resposta veio com o segundo arcano, A Suma Sacerdotisa (Papisa)[15]. Essa carta nos mostra uma necessidade de interiorização, de espiritualização, e de conexão. Ela corrobora perfeitamente com o Espinheiro Branco nesse caso. É necessário um (re)equilíbrio das forças, uma nova compreensão, e uma mudança de fato. O momento é o ideal para a mudança acontecer. Devemos agir passivamente, ou seja, aceitar o que é inevitável, aprender com ele, respeitar o isolamento, optar pela mudança e ter paciência. A transformação virá para aqueles que a buscarem e disso depende o sucesso. Não dá para dizer como serão as coisas no final, nem se serão boas ou ruins, pois ambos os potenciais existem, depende de nossas escolhas e ações, de nossa aceitação e transformação.

Em resumo: façam o isolamento! Usem esse isolamento para meditar, se reavaliarem, se transformarem, se curarem. Para compreender esse mundo e seu papel nele. Para rever seu modo de ser, pensar e agir. Permita-se silenciar e no silêncio, abrace a transformação. 

      Por fim, o conselho a nos ser dado foi perguntado ao Enchanted Blossoms. A resposta veio com a carta Wisdom (Sabedoria)[16]. De acordo com Carla Morrow, criadora desse maravilhoso oráculo, a Sabedoria representa a necessidade de sair de nossa zona de conforto, tentar o novo. A sabedoria precisa ser cultivada e isso se dá a partir das experiências e aprendizados, e para tanto, é preciso tentar novos modos de vida. É o momento de olhar as coisas sob uma nova ótica, aprender com o que se passou e tentar o novo, a transformação chama de novo, e não será fácil, pois nunca é fácil sair dessa bolhinha de conforto na qual nos colocamos. Feito isso, a Sabedoria tem um claro potencia de regeneração, renovação e cura.

A flor associada a essa carta é a Iris Roxa, também chamada de Bandeira Azul, seu uso medicinal é na cura de envenenamentos e foi muito usada no passado como ornamento de túmulos. A borboleta associada é a Cyrestis Thyodamas, a Mapwing Comum (não sei se ela tem um nome em português). Essa borboleta é típica do sul da Ásia, são em geral bastante nervosas e desconfiadas e não se aproxima facilmente de outros animais e pessoas. Costumam viver isoladas ou em grupos de no máximo quatro e seu habitat está relacionado principalmente às florestas, mas também estão presentes em jardins. Se analisarmos, não poderia ser mais preciso a nossa situação: a cura a doença que nos assola, associada ao poder transformador (representado muitas vezes no arcano da morte), numa necessidade de preservar os habitats, a natureza em su estágio mais selvagem e primordial (representado pelas florestas) e na ação individual a partir do isolamento.

A transformação dolorosa de nossas vidas enquanto borboletas em potencial, se dá a partir do aprendizado e da transformação que deve nos conduzir a caminhos novos, mas que só será possível se partir de nós mesmos, de dentro para fora, do indivíduo para o coletivo. O conselho é agir com sabedoria, ou buscá-la no caso, através da renovação, do novo, do isolamento e do aprendizado. O conselho é: permita-se transformar e então transforme o mundo. E isso muito me lembra uma máxima do druidismo moderno: “cure a si, cure os seus, e então cure o mundo”.


Naoíche ar Coronavíreas (Novena pelo Coronavírus):

Independente de sua crença, religião ou ausência dela, convidamos você a participar dessa novena conosco. Serão nove noites de oração e reflexão, mas você pode rearranjar os elementos, retirar o lado religioso e fazer apenas as reflexões. Vamos elevar a espiritualidade e a consciência coletiva (ou apenas a consciência coletiva se você preferir). A sugestão é que nossa união, pensamento e vibração possa ajudar os que precisam, a nós mesmos e o planeta. Se você não acreditar em nada disso, a novena ao menos servirá de uma boa e transformadora reflexão pessoal, além de um passatempo para o período de isolamento.

O ato coletivo de vibrar ajuda a vibração a ressoar intensamente, criando uma egrégora fortíssima. O ato de fazer isso em nove noites, além de trabalhar o foco e a dedicação do dedicante, requer um sacrifício diário de tempo, o que potencializa ação minimamente pela prioridade a ela dada. Nossa mente e espírito são poderosos, e podemos muito se vibrarmos juntos. Então vamos elevar nossas energias pedindo e emanando cura e transformação.

Vou apresentar a seguir uma sugestão simples de reflexão a ser feito por nove noites, com seriedade e dedicação e posso garantir que a mudança que isso irá gerar em si e no mundo será sensível. Adapte os elementos como quiser, mas busque fazer sempre a noite, se possível, próximo às 21h. Dedique-se, pois isso também será um ato de cuidado pessoal, além disso, o mundo precisa e é o mínimo que podemos fazer...

Você precisará apenas de um ambiente calmo, de preferência mais escuro, uma vela roxa (pode ser branca, ou pode retirar a vela se quiser). Inscreva na vela com auxílio de um lápis ou caneta (é fácil marcar as coisas na cera da vela) o símbolo de hÚath (o Espinheiro Branco), e o símbolo de Uillean (a Madressilva), todas letras do Ogham. O Espinheiro Branco nós já falamos sobre ele e representa a nossa situação atual. O Junco representa a renovação, a cura e a transformação física que tanto precisamos, que o mundo precisa. E a Madressilva é a transformação e a cura internas, essa interiorização necessária para descobrir a verdade e romper com as ilusões.



Você poderá fazer a reflexão sentado de frente para a vela, deitado próximo a ela, ou como preferir. Pode meditar com uma música, com o silencia, pode dançar se preferir. Mas deixe sua mente focada nos pontos que vamos elencar a seguir. Foque sua mente, busque as respostas... Leve o tempo que precisar e deixe a vela queimar até que ela se apague sozinha. Ao final, beba um copo de água e evite se aborrecer.
  • 1º dia: reflita sobre você, sobre sua vida, sobre como você se sente com você mesmo. Você se cuida, se ama? Se não, o que falta para isso?
  • 2º dia: reflita sobre os que estão a sua volta, dos mais próximos aos mais distantes. Como você se relaciona? Você é feliz com o jeito com que se relaciona? Como como você se doa?
  • 3º dia: reflita sobre como você recebe o que te é doado, sobre seu empoderamento, sobre como os outros agem com você. Você se sente bem com a forma com que as pessoas se relacionam com você? Se não, como isso pode ser mudado?
  • 4º dia: reflita sobre como você se relaciona com o mundo, com a natureza, com as coisas, objetos a sua volta. Você tem tempo para essas pequenas grandes coisas? Você se dá esse tempo, esse prazer, essa chance? Você observa o mundo, os objetos a sua volta? Você se relaciona com eles ou você apenas passa por eles? Nossa casa, nosso trabalho, os locais em que estamos e frequentamos também devem entrar nesse foco. Mas pense: você conhece o mundo a sua volta: a paisagem, os rios, o céu, os jardins, as matas?
  • 5º dia: reflita sobre os excessos de sua vida, as coisas que você faz em excesso ou deixa de fazer (a ausência também é um excesso). Pense no padrão de vida que você tem, nas pessoas a sua volta, nas ilusões e falsas necessidades que você se colocou ou que te colocaram. O que é excesso, o que pode ser retirado de sua vida? O que você pode se abdicar? O que é desnecessário, mesmo que te pareça bom?
  • 6º dia: reflita sobre o que te é verdadeiro. Quais são suas bases? O que te sustenta no mundo? Quem são as pessoas, as coisas, os projetos, os sonhos e as relações efetivamente verdadeiras em sua vida? Onde está a tua verdade?
  • 8º dia: reflita sobre o que você realmente precisa que você ainda não tem... Pode ser algo físico, emocional, energético...
  • 9º dia: como você pode se curar? E como você pode ajudar a curar o mundo? Quais mudanças e transformações você precisa fazer? E o que você precisa deixar para trás quando esse casulo se abrir e você finalmente poder voar como uma borboleta? Como você pode curar a si, aos seus e ao mundo?

Depois dessa reflexão toda, busque ajuda, cuide do seu emocional, do seu interior, e inicie seu trabalho e sua mudança de transformação de si e do mundo. Seja diferente e seja a diferença. Partindo de si, somos capazes de alcançar o mundo!


Agradeço sua leitura até aqui, e espero que esse texto te seja realmente útil para suas reflexões. Estimo que estejamos juntos nessa novena e que ao sairmos dessa pandemia estejamos efetivamente mais próximos de uma sociedade melhor, para nós e para o planeta.

Paz e Bênçãos!

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Informações importantes sobre o Coronavírus (COVID -19):

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Referências Bibliográficas:

[1] Você pode ler o artigo aqui: <https://sciam.uol.com.br/destruicao-de-habitats-cria-condicoes-ideais-para-o-surgimento-do-coronavirus/?fbclid=IwAR13HzaIWBQpJ0izG82nBYhYKdG1ed4hrEkWonEd0wUQf0t5mwp1itOqsTI>

[2] Você pode ler sobre as reduções de emissão do CO2 em: <https://www.publico.pt/2020/03/16/ciencia/noticia/coronavirus-menos-milhao-toneladas-co2-dia-1907964>, e em: <https://veja.abril.com.br/blog/impacto/novos-habitos-apos-coronavirus-podem-reduzir-emissoes-de-co2/>.

[3] Você pode ler sobre os Canais de Veneza em: < https://g1.globo.com/turismo-e-viagem/noticia/2020/03/18/sem-turistas-e-barcos-coloracao-da-agua-dos-canais-de-veneza-fica-mais-clara-e-nitida.ghtml>.

[4] Você pode ler sobre a Sobrecarga do Planeta em 2019 em: <https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/07/29/sobrecarga-da-terra-2019-planeta-atinge-esgotamento-de-recursos-naturais-mais-cedo-em-toda-a-serie-historica.ghtml>.

[5] Sobre a China ser campeã em emissão de CO2 do mundo, você pode ler em: <https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/china-passa-eua-como-maior-emissor-de-co2-4181491>.

[6] Sobre o seriado documental One Strange Rock, você pode saber mais em: <https://www.nationalgeographicbrasil.com/video/tv/one-strange-rock>.

[7] Saiba mais sobre os Dúile em: <http://lagjf.blogspot.com/2016/03/os-duile.html>

[8] Saiba mais sobre os Caldeirões da Poesia em: <http://lagjf.blogspot.com/2016/03/os-caldeiroes-da-poesia.html>.

[9] Saiba mais sobre os Três Elementos da cosmologia céltica em: <http://lagjf.blogspot.com/2016/03/os-tres-elementos-e-awen-ou-imbas.html>.

[10] Saiba mais sobre o Ogham em: <http://lagjf.blogspot.com/2016/03/o-ogham.html>.

[11] Saiba mais sobre o oráculo Enchanted Blossoms em: <http://mythicsilence.com/2019/07/21/enchanted-blossoms-empowerment-oracle-review/>.

[12] Saiba mais sobre os Três Povos Sagrados da espiritualidade céltica em: <http://lagjf.blogspot.com/2016/03/os-tres-povos.html>.

[13] Imagem retirada de: <https://thethreedruids.files.wordpress.com/2015/12/hc3baath_hawthorn.jpg?w=1000>.

[14] Saiba mais sobre a deusa Cailleach em: <http://lagjf.blogspot.com/2019/12/panteao-clanico-parte-11-deusa-cailleach.html>.

[15] Imagem retirada de: <https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEhiWN52biL1jIwX05uMcsoOp4Ey7xmnicRTuLbQma6hwFigeRZkKXjRegI8Xp7JvcZnH-mis68ddHrsx2bAayExqDCzEmWSE6e8YdAb0_r-DsSMhj83l6wjtJesBwO2KDAQKaVn8x0AQW0GYjfNB3zpNhKlvPY0ceueT-eCJ-fNvM6-xQNvc6XDLw=>.

[16] Imagem retirada de: <https://scontent-yyz1-1.cdninstagram.com/v/t51.2885-15/sh0.08/e35/s640x640/75448863_1265815826921713_6104363212144967098_n.jpg?_nc_ht=scontent-yyz1-1.cdninstagram.com&_nc_cat=101&_nc_ohc=1NdbzDwm6NsAX---qGn&oh=d5ee4c5d85cb4bcee9c9cca8581787e3&oe=5ED155F7>.