domingo, 13 de novembro de 2016

Os Três Círculos da Existência

(crédito da imagem)

Por Ávillys d'Avalon.

De acordo com o sistema Barddas[1], há para os celtas três níveis de manifestação, ou de existência, e através desses, três mundos. Abred, Gwynfyd e Ceugant. Ou seja, a existência física e humana, a divina e a espiritual ou essencial.
            
O primeiro mundo, considerado de o Mundo inferior ou abaixo para alguns, ou o mundo central e original para outros, é correspondente ao Círculo de Abred. O Mundo das Manifestações materiais e físicas.
            
Abred se divide em três níveis: Annwn, o Abismo Primordial, onde todas as coisas nascem, de onde a vida emana, ainda inconsciente. Gobren, a Injustiça ou Provação, onde a vida que se originou em Annwn passa por todos os tipos de provações e descobre seu destino ou caminho até o próximo estágio. Kenmil, a Crueldade, onde a vida que se originou em Annwn, aprendeu sobre si e a reagir em Gobren, ganha sensibilidade, emoções.
            
Esses três níveis, muitas vezes está associada aos reinos mineral, vegetal e animal, mas ultrapassam essa noção na escala espiritual.
            Abred é regido por Ankou, a Fatalidade ou o Destino, que nada mais é do que a manifestação de Ank, o Mundo.
            
Dessa forma, a vida que se origina inconsciente percorre um caminho de provações a fim de tomar sua máxima consciência, adquirindo, por fim, a sensibilidade que traz consigo as emoções e sentimentos. Essa é a escala evolutiva celta no que concerne a realização do primeiro círculo das manifestações, destinado vinculado à manifestação material. Abred é o mundo em que nos encontramos, e indica nossa superação e aperfeiçoamento espiritual, buscando a iluminação, ou a consciência pura.
            
A visão celta desse mundo, portanto, é uma visão de provação e testes, de domínio e superação de seu eu mais primordial e profundo. É no Círculo de Abred que se é colocado em jornada evolutiva, construtiva e profunda. A vida surge do abismo, do profundo, emana dele. Emana do escuro, do vazio. Mas apenas as provações podem dar a ela consciência, manifestação, destino. É na crueldade (que só pode ser conhecida através dos sentimentos) que a vida é levada a tomar consciência e superar-se profundamente, alcançando a iluminação.
            
A crueldade aqui não é entendida como um estímulo a práticas consideradas cruéis, mas sim como a superação da crueldade natural do mundo terreno, das provações da vida e do mistério das origens.
            
O segundo círculo, é o círculo branco, o Círculo Gwynfyd. Esse é o círculo do lar divino, das divindades e daqueles que alcançaram a iluminação, que superaram o Círculo de Abred. Após a morte, somos levados a ascende ao Círculo de Gwynfyd ou a retomar a tentativa passando novamente pelos três estágios de Ankou no Círculo de Abred. E assim sucessivamente até que alcancemos Gwynfyd.
            
Por vezes, essa noção aparece vinculada aos Três Reinos clássicos da mitologia irlandesa, em que Abred é descrito como o Reino Abaixo (Tír Andomain), vinculado ao Mar, que se estende pelas profundezas. Ank é o mundo, a terra, a Terra Média (Bith), onde vivemos nossa fatalidade (Ankou) ou nosso Destino. E Gwynfyd é o Reino Celestial (Mag Mór), acima. Onde encontram-se os Deuses, a Grande Planície e a Terra da Promessa. É comum na mitologia irlandesa a descrição de que os Deuses chegam a esse mundo em barcos que voam.

O terceiro círculo, no entanto, é o Círculo de Ceugant, o Mundo Vazio, onde se encontra a Existência Primordial, a essência de todo o cosmos celta. É um mundo em que ninguém pode estar, é lar exclusivamente espiritual, onde todos os opostos estão reunidos (ser/não-ser, vida/morte, luz/trevas). O fato de não haver existência “consciente” ou física nesse mundo se dá pelo fato de que ninguém pode ser e não ser ao mesmo tempo, está vivo e morto ao mesmo tempo. Ceugant, muitas vezes é descrito como o Centro do Mundo, de onde todas as coisas emanam. Ou, também é descrito, como o último estágio de evolução, a absoluta transcendência

Esses Círculos também estão manifestados na Cruz Celta, que comumente possui um círculo central: Ceugant; um círculo intermediário: Gwyfyd; e um círculo externo: Abred. Assim, a vida é originada e levada a percorrer os quatro caminhos da existência marcado pelos quatro grandes festivais (Samhain, Imbolc, Beltane, Lughnasadh) até alcançar o estágio de Ceugant. Mostrando que o processo de vida, morte e renascimento é cíclico e perpétuo nos dois círculos externos.

(crédito da imagem)


Referências:

____. Druidry in Pagan Federation International, New Zeland (Aorearoa). Disponível em: <http://nz.paganfederation.org/druidry.php>, acessado em 14 nov. 2016.

ISARNOS, Bellouesus. Os Três Círculos da Manifestação in: Bellodunon. Disponível em: <https://bellodunon.com/2014/06/24/os-tres-circulos-da-manifestacao/>, acessado em 14 nov. 2016.

SCHWARZ, Fernando. Druidas – os sacerdotes celtas in Nova Acrópole. Disponível em: <http://www.nova-acropole.pt/a_druidas.html>, acessado em 14 nov. 2016.


[1] Sistema de Druidismo e desenvolvimento Druídico criado por Iolo Morganwg no século XVIII.