sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Uma honra aos Fundadores...

 Buíochas agus Onóir!

Arte por Renata CBLZZ (@loucashistorinhas)
Em representação a Dartagnan Abdias, Humberto Miranda e Silas Roberto
(Fundadores do LaG).


“A religião dos antigos honra seus antigos...” (Ligia Amaral Lima)


Ao reverenciar nossa ancestralidade, sempre encontraremos um lugar especial para nossos Três Fundadores. Nessa celebração de 10 anos do Leanaí an Ghealach Clann (LaG), rememoramos em honra e gratidão a Silas Roberto, Humberto Miranda e Dartagnan Abdias (Ávillys mac Mórrigan), fundadores do LaG.

Saudamos em gratidão e honra o caminho, as portas e os fundamentos que erigiram nesta Família. Buíochas agus Onóir (Gratidão e Honra).

 

Nesta celebração de 10 anos, gostaríamos de rememorar as palavras que Humberto nos enviou na ocasião de Samhain, em celebração de nossos 4 anos, em 2017, sendo as últimas palavras oficiais dele para o Clã e marcando oficialmente seu total afastamento desde então...

 

Caros membros do Clã,

Novamente não poderei me fazer presente nesta celebração. Contudo, por saber da importância da mesma, achei necessário me manifestar pela primeira vez de maneira pública e, assim, demonstrar o devido respeito a todos, mas principalmente ao Dartagnan e ao Silas. Afinal, foi com a companhia destes dois grandes amigos que este projeto se tornou forma – primeiramente em Yesod e posteriormente em Malkuth.

Acredito ser de conhecimento de todos que esta ideia brotou em 2013. Momento propício para nós 3 delinearmos e colocarmos em prática este projeto. Cada uma tinha – e ainda tem – suas próprias motivações e objetivos pessoais e, nesse ano chave, tornou-se possível reunir a vivência de cada um neste grupo. Foi com muito entusiasmo e carinho que pensamos em todos os elementos ritualísticos e teóricos a fim de que a reunião destes 3 amigos não fosse apenas um pretexto para se reunir e sim uma maneira de dividirmos nossas bagagens individuais e pudéssemos aprender uns com os outros.

Através desta convivência pude resgatar minhas origens célticas, entender o porquê de padrões de comportamento e gostos me eram tão particulares. E devo muito estas descobertas ao Dartagnan que me apresentou ao Paganismo e me proporcionou excelentes momentos de estudo e de risadas que se repetem até hoje cada vez que nos encontramos. Ao Silas devo um aprofundamento de meus conhecimentos acerca das práticas e teorias mediúnicas, visto seus longos anos de vivência no Kardecismo, aos conselhos que me deu em momentos cruciais de minha vida e, também não menos importante, as risadas que demos e ainda damos, principalmente quando Taranis vem à tona.

Embora tenha sido de uma maneira torta, nossa reunião apresenta o mesmo caráter tríplice adotado pelos wiccanos. Entretanto, neste clã, ele foi representado através da energia masculina. Formamos uma escada perfeita do jovem, ao homem e ao sábio. Assim como o aspecto feminino da donzela, da mãe e da idosa. (Não Silas, não estou te chamando de velho). Nada nesta reunião foi ordinário, sempre houve muitas peculiaridades em nossas práticas e acredito que este tenha sido o tempero fundamental para o sucesso de nossa empreitada.

Contudo, como todos já devem saber, a natureza trabalha em ciclos. Tudo o que existe tem seu início, o seu meio e o seu fim. Assim vejo meu papel neste clã muito similar ao de uma abelha. No momento certo eu viajei por muitos quilômetros para polinizar estas flores a fim de que as mesmas pudessem seguir seus próprios passos. Assim como sempre o fiz.

A proposta inicial deste grupo, quando éramos apenas nós 3, era a de uma reunião de amigos com o propósito de mútua troca de experiências. Não haveria hierarquia entre nós, nós sempre fomos iguais. Sem mestres ou discípulos. Acredito ter sido esta a pedra angular de nosso sucesso. Por sermos livres em todos os aspectos, era inevitável o momento em que nossas jornadas pessoais nos levariam a encruzilhadas teórico-metodológicas e, assim, chegou a hora de nos abraçarmos, desejar muito sucesso uns para os outros e seguirmos em nossas veredas individuais.

E foi assim que, em 2014, tomei a decisão de seguir meu próprio caminho. Mais forte e como uma bagagem bem maior do que a que tinha em 2013. E, principalmente, com um grande sorriso no rosto por ter vivido momentos tão especiais com estes dois grandes amigos. Nossa separação foi apenas nas questões magísticas. Em Malkuth ainda somos, e sempre seremos, grandes amigos. Embora a montanha russa do cotidiano tenha diminuído bastante as oportunidades de nos encontrarmos. Mas cada encontro é, e sempre será, um momento de grande divertimento e alegria.

Este é um breve histórico de minhas percepções acerca da fundação e implementação do grupo do qual vocês agora fazem parte. Um relato que vocês, provavelmente, já ouviram das bocas do Dartagnan e do Silas, mas nunca da minha.

Sei que a mensagem está se tornando um pouco longa. Gostaria apenas de deixar um recado para todos vocês e um poema para que reflitam sobre os seus próprios caminhos.

A jornada iniciática é um caminho sem volta. Parar ou recuar é sucumbir. Quando um postulante realmente decide seguir a senda ele assume a responsabilidade de todos os seus atos. Ele se compromete com o Universo de que atingirá a iluminação a qualquer custo. Não existe almoço de graça. Para cada passo dado é inevitável uma ordália que colocará a vontade de cada um à prova. E acreditem, vai doer. Vai doer muito! Vai doer até o limite de suas forças. Isto se dá para separar os verdadeiros adeptos dos curiosos. Assim foi, assim é e assim sempre será. Isto não significa que nos tornaremos isentos de cair. Todos estão sujeitos a cair e todos cairão – não uma, não duas, não mil vezes... O que separa um curioso de um adepto é que o adepto SEMPRE levanta e tenta novamente. A principal dificuldade encontrada pelo postulante é a constância e o comprometimento. Vocês podem enganar a todos, mas nunca enganarão a si mesmos. E o grande juiz não é ninguém além de você mesmo.

Não importa qual professor vocês tenham ou por quantos vocês passem. O verdadeiro Mestre está dentro de cada um de vocês. Aprendam a escutá-lo e tenham certeza de que vocês sempre tomarão a decisão certa.

Uma coisa corriqueira é a pressa pela iniciação. Tenham calma... A iniciação, como o próprio nome diz, é um começo e não o fim. Um iniciado não é alguém que atingiu um alto grau, é apenas alguém que acabou de começar, ou como é comumente chamado, um neófito. A iniciação é o primeiro passo de um caminho que pode levar anos, décadas ou encarnações. O tempo é apenas uma ilusão. Assim, gostaria que cada um de vocês refletisse sobre o poema chamado Iniciação de Fernando pessoa:

 

Iniciação

Fernando Pessoa


Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.

.....
 
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.

Vem a noite, que é a morte
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.

Mas na Estalagem do Assmobro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Como o pouco que te tapa.

Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.

Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.

.....

A sombra das tuas vestes
Fiou entre nós na Sorte.
Não estás morto, entre ciprestes.

.....

Neófito, não há morte.

Humberto Miranda (2017)
Membro Fundador do LaG

(Mesmo que os caminhos do mundo tenham distanciado sua presença conosco e em nossos salões, Humberto, você sempre será lembrado e honrado em nosso meio. Suas palavras refletem bem, e não nos deixam esquecer: se Silas foi o ábio conselheiro, Dartagnan foi o jovem prático, você, Humberto, foi e é nosso grandioso coração que a tudo deu forma e viabilidade, que a tudo deu vida. Nossa reverência a ti, Buíochas agus Onóir).


Vídeo por Renata CBLZZ (@loucashistorinhas)
Música e Edição por Labhraín (Joanna Cassiano)
Letra/tradução por Kleber MacTíre (Kleber Ribeiro)
Música original: Morrigan, Omnia